O
mal de muitos
Transcrevo mensagem de uma irmã desencarnada, recebida na reunião
mediúnica no dia 11 de março de 2025, na sede do Grupo Espírita da Fraternidade, que se manifestou pela psicofonia, trazendo-nos importantes apontamentos a respeito da angústia e sofrimento muito
comum de serem observadas em nossos irmãos encarnados e que, infelizmente se
estende para estes mesmos irmãos, no mundo espiritual, caracterizando-se como o
mal de muitos. Atentamente, passemos a ler a mensagem que se torna lição para
nós todos.
- Preciso me livrar desta inquietação, desta angústia. Esta
angústia me rouba o equilíbrio. Ah...está angústia! – queixava-se a irmã com
voz quase sumida.
- O que provocou a angústia em você? Procurar saber a causa já é
um grande passo para sua melhora – respondi tentando iniciar um diálogo.
- Não sei…não sei….Acho que é da minha natureza.
- Há muito tempo está assim?
- Na verdade, eu queria dormir para nunca mais acordar. Não
tem nenhum sentido, nada faz sentido, nada!
- Tudo faz sentido irmã, basta que nós o encontremos...- e fui
interrompido.
- Nada faz sentido, nada tem cor!
- Procure alterar a maneira de ver as coisas. De acordo com sua postura,
serão as paisagens ao nosso redor.
- Eu já tentei diversas formas e maneiras.
- Já tentou Jesus? Perguntei dando novo ruma à conversa.
- Jesus…Jesus.
- Talvez falte está tentativa.
- Jesus. Jesus é tão bonito nos livros, nos quadros. Jesus é tão
bonito nas igrejas.
- Você conhece a história dEle? É muito bonita e repleta de bons
exemplos para todos nós.
- A história dEle… - respondeu reticente e com jeito de quem
não sabia muito bem.
- Isso. A qual temos acesso pelos Evangelhos. Afinal, não perdurariam
tanto tempo assim se não fossem reais.
Enveredando para outro assunto, perguntei:
- Tem ideia do local que estamos dialogando?
- Deve ser mais uma casa de terapia ou mais um grupo de psicólogos
tentando desvendar a minha mente, o meu pensamento, a causa das minhas
angústias, das minhas aflições. Talvez um psiquiatra ou um neurologista,
intentando desvendar o que existe dentro da minha cabeça.
Respondi, entrando no assunto delicado, falando as palavras
pausadamente:
- Você está em um centro espírita. Você já sabe que morreu?
- Quem morreu? – rebateu um tanto surpresa com a minha pergunta.
- Você...
- Não, e sorriu não acreditando. Morrer é o meu maior desejo.
Continuei no assunto:
- Você já passou para o "lado de lá", não faz mais parte do mundo
dos encarnados.
E ela insistiu:
- Morrer era o que eu mais queria, dormir o sono da morte para
nunca mais acordar e para não ver e sentir nada mais.
- Esse é o seu desejo? Infelizmente ele não se cumpriu porque
a morte não tem esse significado e você já passou por ela.
- Não passei não…
Tentando ser mais convincente, acrescentei:
- Me diga, onde estão seus familiares? Por onde estão seus
conhecidos, os seus amigos?
- Nunca os tive.
Percebendo que seria difícil o esclarecimento, insisti no
argumento:
- Sempre foi sozinha? Era solitária? Não tinha uma amiga, um amigo
pelo menos, um filho?
- Você já esteve em um lugar cheio de pessoas e mesmo assim
sentia-se como um ninguém?
- Nesta existência não. Eu vivo com a minha família e estou bem integrado
com ela.
- Pois é, eu não me sentia integrado em lugar algum.
- Por que será? Provavelmente o problema esteja em você mesma.
- É exatamente o que eu quero saber, o que eu busco.
- Vamos por parte então – repeti a informação mencionada - eu
preciso lhe informar que você desencarnou, perdeu o corpo físico.
- Mas como, se estou caqui com meu corpo e até posso tocá-lo?
Afinal, eu ainda o sinto.
Não podendo fugir da pergunta, respondi esclarecendo-a:
- Este é um outro corpo, que estudando o Espiritismo, conhecemos
como corpo do espírito ou perispírito. O corpo físico que você deixou com a
morte, é uma cópia fiel deste. Daí você se sentir como se ainda estivesse
encarnada.
E completei com um questionamento para ir ao âmago da situação:
- Você possuía algum conhecimento espiritual sobre a vida após a
morte?
- Nenhum – respondeu secamente.
- Vou lhe fazer outra pergunta: gostaria de ver a cena do seu
velório? Se responder afirmativamente, lhe mostrarei seu corpo dentro do caixão
no seu velório. Gostaria de ver?
Insisti na pergunta, quando senti que poderia formulá-la sem ser
agressivo e nem estar indo além do razoável para um espírito desencarnado que,
claramente, não apresentava a mínima condição de entendimento do que lhe
acontecera.
- E você tem esse poder? Questionou-me, meio que duvidando.
- Não, não tenho esse poder. Na verdade, está dentro de você e eu
não tenho poder algum. É que você viveu essa cena e elas estão registradas na
sua memória espiritual. Se você deseja vê-lo, com permissão dos espíritos que
dirigem esta reunião e sob o comando deles, esta prova lhe será apresentada.
- Eu quero.
Como uma prece então, elevei meu pensamento aos espíritos amigos:
- Senhor Jesus, reconhecendo nossa desvalia, rogamos aos seus
mensageiros no mundo espiritual, encarregados da coordenação deste trabalho para,
com a permissão superior, ser demonstrado a essa irmã, sem lhe causar dano ou crise
adicional, as cenas de seu passamento aqui na Terra, apenas para finalidade de
elucidação de seu espírito.
Após um pequeno intervalo de uns poucos minutos, perguntei:
- Consegue ver? Quem está no seu velório? Olhe ao redor e procure
perceber-se no lugar. São seus conhecidos?
- Nunca pensei que chorariam por mim – disse surpresa com a voz
embargada.
- Graças a Deus – ajuntei em gratidão ao objetivo alcançado. Como eu disse, às vezes o problema pode
estar no seu coração.
- Nem lembro do meu coração.
- Talvez você tenha se fechado muito, minha irmã.
- Meu coração dói.
- O coração é a fonte do nosso sentimento.
- Parece que eu nunca tive um coração, estranho, parece que eu
nunca tive um coração – repetiu com voz amargurada.
- …como se fosse indiferente – falei completando.
- Por que? Porque assim tão fria, tão sem sentimento? – como
questionando a si mesma.
- Isso é fruto do que aconteceu ao longo do tempo, não foi
provocado do dia para noite. É um processo em que você se deixou levar,
principalmente pela falta de um propósito nobre e superior para sua
vida. Quando não temos a consciência que somos apenas espíritos encarnados
na Terra para evoluir, fazendo parte da dinâmica maravilhosa do universo
divino, nós chegamos a acreditar, sob nossos padecimentos, que somos esquecidos
por Deus.
- É… eu não tenho nenhuma crença.
- Como se fosse uma planta no deserto que, sem a fonte que a
vitalize, acaba por secar, por fora e por dentro.
- Sempre achei de uma bobeira e de uma perda de tempo os que buscam uma crença.
- É que talvez, a sua era uma fé vacilante, uma fé vazia centrada
em valores místicos e não na vida e presença de Jesus em nós; na existência de
um Pai soberano que quer o melhor para todos, muito embora tenhamos nossos
problemas que precisamos enfrentá-los.
Daí temos que fazer viver em nós a esperança, a fé viva, mas não uma
esperança passiva minha irmã, e sim uma esperança na construção e tanto melhor
se for na doação. Você se doava para alguém, quando encarnada? Foi alguém que
auxiliou o próximo e o auxiliou na vida dele?
- Eu não tive um próximo. Não tive ninguém.
- Sabe o que vislumbro, minha irmã? Você assemelha-se a um jardim
estéril, sem nenhuma graminha verde espalhada e nem roseira. Você era apenas
uma terra em que a semente depositada não vingou por falta do arado, na imagem
do esforço próprio e falta de fertilização, aqui representado pelo serviço ao
próximo. Quando encarnados, na Terra somos tal qual uma gleba de terra que
compete a cada um, com cada ato nosso...- antes de terminar o pensamento fui
interrompido.
- Mas eu desejei ser diferente, eu desejei. Procurei
tratamento, me dediquei para melhorar. Mesmo assim eu nunca tive resposta. Porque
tanta amargura, tristeza e angústia? Imagine o que seja viver 47 anos sem
sentir nem amar, nem ser amada. Sem ver a grandeza que os outros falavam sobre
a grandeza da vida? Sabe o que é isso? – falou em tom de desabafo.
- Entendo perfeitamente minha irmã, mas não perca de vista que esses
sentimentos que você experimenta, são efeito e não a causa.
- E agora o senhor me diz que eu morri?
- Sim.
- ....e eu continuo a mesma pessoa –concluiu com acerto.
- Exato, mas eu tenho uma pequena correção a fazer sobre o
que você disse.
- O que? indagou curiosa.
- A partir de agora não será mais a mesma pessoa, pois você está recebendo
o conhecimento.
- ... e terei respostas? – completou.
- Sim, e a primeira delas, foi saber que sua morte não alterou sua
situação, ou seja, passou para “o outro lado” e permaneceu a mesma pessoa. A
mudança, irmã, somente irá ocorrer se você quiser e se esforçar para mudar. Não
aguarde a mudança de fora para dentro e nem que Deus produzirá em você um
milagre, como às vezes cantam os hinos nas respeitosas religiões. Jesus não irá
promover em você um milagre, desde que você não queira e faça para tanto
- Só eu não fui merecedora de um milagre de uma benção – expressou
lamentando.
- Não. Não é assim. Você não é a única. Há muitos outros irmãos que
estão em situação muito pior. A maioria deles está desnorteada, são enfermos em
terríveis pesadelos. Às vezes dormem por muitos anos e não aquele sono que você
estava pretendendo, mas um sono perturbador, em que querem acordar e não
conseguem.
- Ai… será que aqui do outro lado da vida eu vou ter sucesso neste
tratamento?
- Vamos modificar esta frase. Repita comigo:
- Neste outro lado da vida eu terei sucesso, encontrarei os
recursos em mim próprio que me auxiliem no meu soerguimento espiritual – em
seguida ela repetiu a frase toda.
- Isto é um bom recomeço, a mudança de ideia, renovação do
pensamento. Veja, é como se tivesse uma gaveta que está cheia de roupas e
objetos antigos que se um dia foram úteis, hoje não servem mais para nada. Percebendo o quanto, neste momento, são inúteis, você remove todos aqueles objetos e substitui
por coisas novas, representando novos pensamentos, novas ideias, como essas que
compartilho com você. Sua mente, da mesma forma que a gaveta, deve renovar o
conteúdo, alterando pensamentos sombrios e doentios, por outros saudáveis.
Por um tempo, eles ainda lhes acompanharão, porém com esforço,
conseguirá as modificações. Nem é necessário aderir a crença, mas lhe convido a
estudar e vivenciar valores espirituais. Aceitar a Jesus como um amigo
incondicional.
- Preciso encontrá-lo dentro de mim. Algo em meu interior representa
uma negação diante dEle, sabe?
- Desculpe, mas essa negação origina-se de uma falsa ideia que
você nutria deste homem. Ele não é um ser superior distante de nós, a ponto de
nos desconsiderar. Ele é um amigo bondoso que veio de muito longe, de seus
reinos celestiais mergulhar nesse pântano, que é viver na Terra, para nos
ensinar a palmilhar o caminho que Ele representa.
- Sinto que estou muito distante dEle, muito longe de tudo
isso ainda.
- Todos estamos minha filha, todos estamos. Não desanime não.
- Não foram os sentimentos tristes, que habitam em seu coração, a razão dEle
se afastar de você, pois na verdade, você é que se afastou dEle.
Quando você descobrir sua onipresença, que sempre está ao nosso
lado, não mais se apartará dele. Enfim, não é uma questão de trazê-Lo até você
e sim de irmos ao seu encontro.
O convite de Jesus se renova, para nós, a cada novo dia. Suas
lições representam palavras de vida eterna, aguardando-nos a sincera adesão. Estenda
suas mãos e, passo a passo, caminhe em direção a Ele.
- Aos poucos, essas angústias haverão de desaparecer. Aliás, uma
sugestão, enquanto se recupera, reúna forças e procure ler uma página construtiva
para seu coração e quando reunir condições, faça algo em favor de alguém. Que
seja uma oração de gratidão a um amigo que você viu chorar no velório por você,
por um familiar, por uma pessoa desconhecida, um sofredor anônimo.
- Eu vou ter que me esforçar muito para encontrar forças dentro de mim…
- Escute, as construções sólidas, mas realmente sólidas, começam
com pequenos tijolos, um a um, não tenha pressa. Deus não tem. Ore e confie.
- Eu irei me esforçar….
- Você conseguirá, todos somos filhos de um grande Pai amoroso e
por essa razão, trazemos em nós um ponto de luz que cabe a cada um procurar e
encontrar. Faça brilhar a sua luz.
- Jesus lhe ampare minha irmã e que esse nosso diálogo possa lhe ter
sido útil para abrir novos caminhos.
- Realmente, desta vez foi diferente do que eu estava
acostumada. Parece que estou sentindo menos aperto, menos opressão no meu peito.
Consigo até respirar melhor.
- Assim que funciona. Abrir nosso peito e deixar a luz do Cristo
penetrar. Temos andado muito distraídos no mundo, deixando de lado a Jesus que,
pacientemente, aguarda um a um de nós.
Lembre-se da gaveta e renove-se.
- Eu vou limpar minha gaveta
- Eu também preciso limpar a minha. Somos “expert” em acumular lixo e tranqueiras
em nosso coração – arrematei, compartilhando a necessidade, a que todos nós, deveria
preocupar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário