Xô trevas, xô.
Nos assuntos que envolvem a
morte, as religiões de todos os tempos, baseadas em suas doutrinas, sustentam
diversas teorias sobre o esclarecimento da situação da criatura após deixar o
corpo. Em todas elas as situações descritas são diversificadas, porém fazem
referências às zonas purgatoriais, a locais de trevas.
No “Novo Testamento”, em pelo
menos duas passagens Jesus se refere às trevas exteriores na forma de punição,
de acordo com as anotações de Mateus, em “A Parábola das Bodas” e “A Parábola
dos Talentos”.
Recordemos:
- “Entrou, em seguida, o rei para
ver os que estavam à mesa e, dando com um homem que não vestia a túnica
nupcial, disse-lhe: Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem
guardou silêncio. – Então, disse o rei à sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e
lançai-o nas trevas exteriores:
aí é que haverá prantos e ranger de dentes; - porquanto, muitos há chamados,
mas poucos escolhidos (Mateus, cap. XXII, vv. 11 a 14)”.
- “...porquanto, dar-se-á a todos
os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem,
tirar-se-lhe-á mesmo o que parece ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá
prantos e ranger de dentes (Mateus, cap. XXV, vv. 29 e 30)”.
Nestes vales das sombras, a alma
equivocada purgaria penas eternas, sem remissão, transformados em locais de
eternos sofrimentos.
Embora saibamos que o Céu ou
o Inferno possam existir na intimidade de cada um, em decorrência de nossas
ações, é possível considerar que como locais geográficos, ambos podem também
existir. Não sendo fruto da obra divina, os locais de sofrimento e dor, são
criados pelas almas dos penalizados, sendo, portanto, temporários.
Sim, as zonas purgatoriais são inúmeras e sombrias, terríveis e dolorosas,
mas podem ser saneadas.
Segundo a Doutrina Espírita, ao
deixar o corpo definitivamente, pelo fenômeno da morte, o Espírito deixa a
dimensão física e ingressa na dimensão espiritual, que se desdobra em vários
níveis.
Imaginemos a Terra como uma
imensa cebola. Na primeira camada interior estaria a crosta, onde vivemos. Nas
demais camadas, as regiões espirituais, ou na verdade, mundos menos materiais
que a nossa Terra, porém ainda constituídos de matéria.
A maioria de nós encarnados, com
as exceções naturais, quando deixarmos a dimensão que habitamos, ingressamos de
imediato na camada seguinte, praticamente uma projeção do plano físico, onde
espíritos ainda arraigados à matéria, viciosos, criminosos e com muitas
imperfeições, permanecemos. Algo como o Umbral, descrito por André Luiz, da
obra Nosso Lar.
É, pois, neste novo plano que a
criatura, se consciente, reconhecerá o resultado de suas ações na passagem pelo
campo carnal, que refletem seus mais íntimos sentimentos e desejos.
Fácil deduzir que, pela condição
evolutiva da grande maioria dos habitantes da Terra, da qual nos incluímos, praticamente,
em seguida à morte do corpo, voltamos a ser dominados pelas trevas interiores existentes
em nós, e regressamos ao mesmo sítio de sombras, de onde saímos para tentar
vencer nossas imperfeições ao reencarnar.
Isto pode ser traduzido em bom
português, que o espírito evolui muito lentamente e necessita várias saídas e
entradas no corpo (nascimento e morte) para evoluir. Jesus tentou explicar esse
conceito a Nicodemos que, atônito, chegou a perguntar ao Mestre como um homem
velho poderia reentrar no ventre materno.
Nas regiões purgatoriais, os
espíritos tendem a se reunir de conformidade com a natureza de suas mazelas e
crimes. Constituem grupos afins, os avarentos, os assassinos, os assaltantes,
os maledicentes, os invejosos, os viciosos, os pervertidos, os suicidas e assim
por diante.
Imperioso destacar que a presença
nestas zonas não se configura, para o espírito, um castigo Divino, nem implica
o pagamento de suas dívidas, que deverão ser ressarcidas em novas existências
na carne. Somente define sua nova morada que foi edificada durante sua
existência terrena. Colhendo o que plantaram.
A “túnica nupcial” usada pelo
invasor das bodas, representa aqui o perispírito, que pelas mazelas do
espírito, não exibe sutileza nem fluidez suficiente para alçar voos mais
elevados na direção de esferas de harmonia e paz.
Nestas paragens ficarão até que
reconheçam sua miséria moral e desejem sinceramente, do fundo de seu coração,
modificar-se. Isso representará somente o primeiro passo, habilitando-os a serem
atendidos em organizações assistenciais existentes nestas regiões, como um oásis
em meio ao deserto.
Cada um de nós, todos os dias, dá
sempre notícias da própria situação espiritual. Os atos, as
palavras e os pensamentos que externamos, constituem-se em
informações vivas da zona mental que procedemos revelando-se também, como
passaporte para nossos futuros destinos.
Por isso, coloquemos nossas
barbas de molho. Sabemos que as oportunidades oferecidas pelo Pai, são muitas.
Não creiamos em momento algum que a subida será fácil. Chega de ilusão das
conquistas fáceis e sem esforço!
Somente faremos a paz ao nosso
redor, beneficiando os que nos cercam, lutando contra as sombras de nossa própria
intimidade, para que se faça em nós o
reinado da luz.
Referência:
(1)
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de
Guillon Ribeiro. 131ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 410p.
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