segunda-feira, 7 de outubro de 2024

 

Xô trevas, xô.

Nos assuntos que envolvem a morte, as religiões de todos os tempos, baseadas em suas doutrinas, sustentam diversas teorias sobre o esclarecimento da situação da criatura após deixar o corpo. Em todas elas as situações descritas são diversificadas, porém fazem referências às zonas purgatoriais, a locais de trevas.

No “Novo Testamento”, em pelo menos duas passagens Jesus se refere às trevas exteriores na forma de punição, de acordo com as anotações de Mateus, em “A Parábola das Bodas” e “A Parábola dos Talentos”.

Recordemos:

- “Entrou, em seguida, o rei para ver os que estavam à mesa e, dando com um homem que não vestia a túnica nupcial, disse-lhe: Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio. – Então, disse o rei à sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores: aí é que haverá prantos e ranger de dentes; - porquanto, muitos há chamados, mas poucos escolhidos (Mateus, cap. XXII, vv. 11 a 14)”.

- “...porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que parece ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes (Mateus, cap. XXV, vv. 29 e 30)”.

Nestes vales das sombras, a alma equivocada purgaria penas eternas, sem remissão, transformados em locais de eternos sofrimentos.

Embora saibamos que o Céu ou o Inferno possam existir na intimidade de cada um, em decorrência de nossas ações, é possível considerar que como locais geográficos, ambos podem também existir.  Não sendo fruto da obra divina, os locais de sofrimento e dor, são criados pelas almas dos penalizados, sendo, portanto, temporários. 

Sim, as zonas purgatoriais são inúmeras e sombrias, terríveis e dolorosas, mas podem ser saneadas. 

Segundo a Doutrina Espírita, ao deixar o corpo definitivamente, pelo fenômeno da morte, o Espírito deixa a dimensão física e ingressa na dimensão espiritual, que se desdobra em vários níveis.

Imaginemos a Terra como uma imensa cebola. Na primeira camada interior estaria a crosta, onde vivemos. Nas demais camadas, as regiões espirituais, ou na verdade, mundos menos materiais que a nossa Terra, porém ainda constituídos de matéria.

A maioria de nós encarnados, com as exceções naturais, quando deixarmos a dimensão que habitamos, ingressamos de imediato na camada seguinte, praticamente uma projeção do plano físico, onde espíritos ainda arraigados à matéria, viciosos, criminosos e com muitas imperfeições, permanecemos. Algo como o Umbral, descrito por André Luiz, da obra Nosso Lar.

É, pois, neste novo plano que a criatura, se consciente, reconhecerá o resultado de suas ações na passagem pelo campo carnal, que refletem seus mais íntimos sentimentos e desejos.

Fácil deduzir que, pela condição evolutiva da grande maioria dos habitantes da Terra, da qual nos incluímos, praticamente, em seguida à morte do corpo, voltamos a ser dominados pelas trevas interiores existentes em nós, e regressamos ao mesmo sítio de sombras, de onde saímos para tentar vencer nossas imperfeições ao reencarnar.

Isto pode ser traduzido em bom português, que o espírito evolui muito lentamente e necessita várias saídas e entradas no corpo (nascimento e morte) para evoluir. Jesus tentou explicar esse conceito a Nicodemos que, atônito, chegou a perguntar ao Mestre como um homem velho poderia reentrar no ventre materno.

Nas regiões purgatoriais, os espíritos tendem a se reunir de conformidade com a natureza de suas mazelas e crimes. Constituem grupos afins, os avarentos, os assassinos, os assaltantes, os maledicentes, os invejosos, os viciosos, os pervertidos, os suicidas e assim por diante.

Imperioso destacar que a presença nestas zonas não se configura, para o espírito, um castigo Divino, nem implica o pagamento de suas dívidas, que deverão ser ressarcidas em novas existências na carne. Somente define sua nova morada que foi edificada durante sua existência terrena. Colhendo o que plantaram.

A “túnica nupcial” usada pelo invasor das bodas, representa aqui o perispírito, que pelas mazelas do espírito, não exibe sutileza nem fluidez suficiente para alçar voos mais elevados na direção de esferas de harmonia e paz.

Nestas paragens ficarão até que reconheçam sua miséria moral e desejem sinceramente, do fundo de seu coração, modificar-se. Isso representará somente o primeiro passo, habilitando-os a serem atendidos em organizações assistenciais existentes nestas regiões, como um oásis em meio ao deserto.

Cada um de nós, todos os dias, dá sempre notícias da própria situação espiritual. Os atos, as palavras e os pensamentos que externamos, constituem-se em informações vivas da zona mental que procedemos revelando-se também, como passaporte para nossos futuros destinos. 

Por isso, coloquemos nossas barbas de molho. Sabemos que as oportunidades oferecidas pelo Pai, são muitas. Não creiamos em momento algum que a subida será fácil. Chega de ilusão das conquistas fáceis e sem esforço!

Somente faremos a paz ao nosso redor, beneficiando os que nos cercam, lutando contra as sombras de nossa própria intimidade, para que se faça em nós o reinado da luz. 

Referência:

(1) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 131ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 410p.

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