Excêntricos, fanáticos,
iludidos e sonhadores.
É de impressionar quantas
passagens no evangelho de Jesus, cujas lições, muitas vezes sutis, hão de
permanecer muitos séculos para entendermos e colocar na prática de nossas
vidas. Não se trata
esta constatação de novidade alguma, pois o apóstolo João (21:25) afirma:
“Jesus realizou ainda muitas outras maravilhas. Se todas elas fossem
escritas uma por uma, acredito eu que nem mesmo no mundo inteiro seria capaz de
conter os livros que se escreveriam.”
É o caso que deparamos no
capítulo XIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, denominado Honra teu pai e
tua mãe; no item 5 – Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
Recordemos
o texto retirado da referida obra:
E, tendo vindo para casa,
reuniu-se aí tão grande multidão de gente, que eles nem sequer podiam fazer sua
refeição. – Sabendo disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam
que perdera o espírito. Entretanto, tendo vindo sua mãe e seus irmãos e
conservando-se do lado de fora, mandaram chamá-lo. – Ora, o povo se assentara
em torno dele e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te chamam.
– Ele lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, perpassando o
olhar pelos que estavam assentados ao seu derredor, disse: Eis aqui minha mãe e
meus irmãos; – pois, todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe.
A par dos vários ensinamentos que comportam a análise desta passagem, da qual, sem dúvida, destaca-se o ensino de precisar a diferença entre a parentela corporal e a espiritual. Que na família espiritual os laços de afeição, simpatia e fraternidade, cultivados na Terra, fortalecem e unem os Espíritos antes, durante e após a encarnação.
Ou seja, os laços espirituais extrapolam os da consanguinidade.
Mas não é sobre esse tema que desejo alongar um pouco mais nossas reflexões.
Chamo
atenção ao caro leitor, sobre como o evangelista Marcos (3: 20-21), observa e descreve a relação de Jesus com seus
familiares consanguíneos:
“Sabendo disso, vieram seus
parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o espírito.”
Também João
(7:5) afirma positivamente:
“Porque nem mesmo seus irmãos criam nEle”
“Pelo que concerne a seus
irmãos, sabe-se que não o estimavam. Espíritos pouco adiantados, não lhe
compreendiam a missão: tinham por excêntrico o seu proceder e seus ensinamentos
não os tocavam, tanto que nenhum deles o seguiu como discípulo. Dir-se-ia mesmo
que partilhavam, até certo ponto, das prevenções de seus inimigos. O que é
fato, em suma, é que o acolhiam mais como um estranho do que como um irmão,
quando aparecia à família. ”
Sobre estas idôneas afirmativas é justo deduzir como não foi fácil o desenvolvimento da missão de Jesus na Terra. Excetuando o amor incondicional de sua mãe Maria, seus próprios familiares, por não o compreenderem, consideravam-lhe louco. Jesus não era estimado pelos irmãos e até certo ponto, formavam coro com os inimigos do Cristo para combatê-lo. Era considerado antes um estranho, do que um irmão.
Grande ensinamento guarda este detalhe “escondido” na passagem evangélica.
Nós também, ao alinharmos nossa fé e ações aos princípios da Doutrina Espírita, haveremos de enfrentar, muitas vezes, a indiferença e frieza de nossos familiares e das pessoas queridas que nos compartilham a existência.
Quanto mais acentuarmos nossas forças, direcionando-as contra os ditames do convencionalismo social e religioso, que sempre se opuseram a Jesus, tanto mais também seremos defrontados pelos irmãos de sangue e de propósitos, causando-nos muita surpresa e decepção.
Jesus, com o “perdoar setenta vezes sete vezes” e o “amar vossos inimigos como eu vos amei”, rompeu para sempre as barreiras dos padrões religiosos vigentes na época, estabelecendo para a eternidade a regra áurea que, se fielmente seguida, habilitar-nos-á ao ingresso no Reino Divino existente em cada um de nós.
Entretanto, assim como para o Mestre divulgar e vivenciar estes ensinos lhe custou a vida física na Terra, haveremos de experimentar na própria carne o látego que nos há de depurar a alma.
Até lá, seremos taxados de excêntricos, fanáticos, iludidos e sonhadores.
Realmente, dividir com o Cristo, o caminho da redenção de nossas almas, será por muito tempo para poucos. Tentarão nos apoderar o espírito, pelas alças da obsessão observando e alimentando nossas muitas fraquezas. Perderemos, para o mundo exterior, a credibilidade, por crer em princípios que requererão de nossa parte, o abandono de pais e irmãos e das comodidades terrenas.
Mas há um consolo que nos faz continuar a lutar e a alimentar a esperança. O fato de sermos iniciados, pela Doutrina Espírita, na compreensão dos desígnios superiores do Cristo, que diferentemente de seus irmãos consanguíneos, fomos tocados e aprendemos que o esforço diário e sem trégua contra nossas imperfeições é o caminho para tornarmo-nos discípulos de Jesus.
Referência:
(1)
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de
Guillon Ribeiro. 131ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 410p.
A luta para o aprimoramento deve ser diuturna, pois não é fácil nadar contra a corrente, mas perseverando no espírito haveremos de nos conduzir a patamares mais elevados rumo a perfeição de nossos espíritos. Um dia lá, chegaremos.
ResponderExcluirEntão Anna, e essa luta, muitas vezes deverá ser realizada no anonimato, contando com nossas próprias forças.
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