segunda-feira, 30 de setembro de 2024

                         Como Eurípedes Barsanulfo tornou-se espírita.

Em 1904, aos vinte e cinco anos de idade, a Espiritualidade marcou o reencontro do discípulo de Sacramento com a Doutrina Espírita.

Antes de Eurípedes Barsanulfo converter-se ao Espiritismo (era católico), alguns parentes realizavam sessões mediúnicas em Santa Maria, lugarejo distante 14 quilômetros do centro de Sacramento – uma região montanhosa com terra vermelha e algumas casas rústicas. As sessões em Santa Maria eram realizadas na casa de Honorato Ferreira Cunha (tio de Eurípedes) situada na Fazenda Santa Maria.

Eurípedes Barsanulfo, até então, não procurava inteirar-se a fundo do que sucedia em Santa Maria. Ouvia, apenas, falar que inúmeros parentes seus haviam se tornado espírita; inclusive, um irmão de sua mãe. Entre os parentes convertidos à Doutrina Espírita havia um, porém, a quem Eurípedes dedicava especial afeição – seu tio Mariano da Cunha Júnior, homem sem cultura, porém inteligente e bom.

No dia 28 de agosto de 1900, foi fundado pelo grupo o Centro Espírita “Fé e Amor” que tinha como médiuns vários familiares de Eurípedes, dentre eles, Mariano da Cunha Junior (“Sinhô Mariano”), tio de Eurípedes, médium receitista mecânico e de efeitos físicos.

O Centro Espírita “Fé e Amor” atendia, gratuitamente, os enfermos com uma farmácia homeopática. As receitas eram psicografadas por João Candido e Mariano da Cunha Júnior. As sessões, ricas de fenômenos eram assistidas por lavradores das redondezas e suas famílias.

Quando soube que o tio Mariano havia se convertido ao Espiritismo, difamado pelo clero como a “doutrina de Satanás”, Eurípedes, muito católico, lhe disse: - “O senhor, que foi materialista, está agora ligado a essa doutrina…. Como foi isso possível? ”

Tio Mariano, que por estranha coincidência trazia na mão a obra de Léon Denis, “Depois da Morte”, respondeu, tranquilamente: - “Coisas do destino, meu sobrinho… pouco entendo de Espiritismo para poder responder certo a você, que é moço culto e inteligente. Mas, já que gosta tanto de ler, trago aqui um livro que lhe recomendo… leia com atenção e veja se o Espiritismo é doutrina de Satanás. Esse livro não põe a gente louco, não.”

Eurípedes pegou a obra, e passou a noite inteira lendo o livro de Léon Denis. Trezentas e trinta e quaro páginas repletas de profundo interesse. Admirou-lhe o estilo fluente e surpreendeu-se com os conceitos filosóficos sobre a Vida e a Morte, que lhe pareceram absolutamente corretos; encontrou na reencarnação a única explicação racional para os desequilíbrios físicos, morais e sociais. O destino do ser humano além-túmulo não mais lhe era uma esfinge indecifrável…

O livro luminoso de Leon Denis era uma revelação fantástica! Escrito com uma lógica de ferro, quem poderia, sem sofismas, refutá-lo? A Doutrina Católica parecia-lhe, agora comparada à Doutrina Espírita, como que um conto de carochinha…

E Eurípedes, ao devolver a grande obra disse: - “Meu tio, por essa eu não esperava! De fato, este livro é um monumento! ”

- Fique com ele. É um presente - respondeu seu tio. E Eurípedes releu-o. A segunda leitura consolidou a primeira impressão e, o que lhe parecia estranho, é que havia aceitado com naturalidade os princípios espíritas; aceitara-os sem lhes opor nenhuma barreira!

Agora, para continuar no Catolicismo só havia um meio – provar que o fenômeno espírita não existia e que, portanto, o livro de Léon Denis não passava de devaneios filosóficos, não obstante a lógica.

Dias depois, tio Mariano voltou a Sacramento e disse a Eurípedes: - “Você precisa ir a Santa Maria e ver os espíritos se comunicarem. ”

No ano de 1904, Eurípedes convida seu amigo José Martins Borges para irem assistir a uma sessão espírita em Santa Maria. Ambos chegaram a Santa Maria com o objetivo de observar tudo ao vivo. Entraram no recinto respeitosos e os trabalhos já haviam iniciado.

A pequena sala achava-se totalmente tomada com todos os lugares ocupados e atrás da linha, onde se encontrava o médium Aristides Ferreira da Cunha, situavam-se dois lugares desocupados, providencialmente à espera dos dois visitantes.

Eurípedes acompanhou a leitura com atencioso respeito e interesse. Tudo lhe era novo e surpreendente. Nunca se sentira tão bem em outras ocasiões nos ofícios religiosos de que tomava parte.

Todavia admirava-se de ver homens incultos assumirem a grande responsabilidade da difusão do Evangelho do Senhor. Por exemplo, ali se achava o médium Aristides, indivíduo tão seu conhecido carregando um coração de ouro, mas com o cérebro vazio.

Um pensamento vibra na mente de Eurípedes e resolve fazer o seu pedido mentalmente:

- “Tudo compreendi na Bíblia, mas o meu entendimento está fechado para as bem-aventuranças. Se é verdade que os espíritos se comunicam com os vivos, rogo a João Evangelista esclareça-me através do médium Aristides.

Alguns minutos após Eurípedes ouvia a mais extraordinária dissertação filosófico doutrinária que jamais conhecera em toda sua vida sobre o luminescente discurso de Jesus, por intermédio do intérprete solicitado.

Impossível atribuir a Aristides, semianalfabeto, aquela linguagem sublime, onde o magnetismo de poderosa eloquência empolgava até às lágrimas os presentes.

Eurípedes, na sua sensibilidade acurada, tomava-se, sem entender, do élan envolvente de vibrações magnéticas que se desprendiam da natureza espiritual da entidade comunicante.

A alocução clara e persuasiva, esclarecendo problemas do Espírito – no quadro das causas e efeitos - da vida além-túmulo, salientando as possibilidades do trabalho, nos roteiros do aprendizado maior, da multiplicidade das existências no imenso painel do progresso espiritual. Tudo deixara Eurípedes altamente impressionado.

Ao final da Luminosa exposição a entidade espiritual assinala sua identidade com o selo vibrante de fraterna saudação: Paz! João o Evangelista.

Terceiro filho de 15 irmãos, Eurípedes foi filho de Hermógenes de Araújo “seu Mogico” e de Jerônima Pereira de Almeida “dona Meca”. 

Eurípedes Barsanulfo, nasceu em Sacramento, MG, em 01/05/1880 e desencarnou na mesma cidade, vitimado pela gripe espanhola em 01/11/1918, com 38 anos de idade. 


Referências:

(1) Eurípedes o homem e a missão. Corina Novelino. 4ª ed. IDE, 1981, 256p.

(2) Eurípedes Barsanulfo “o apóstolo da caridade”. Jorge Rizzini. 7ª ed. Edições Correio Fraterno, 1979, 72p.

2 comentários:

  1. Que rica história, eu mesma a desconhecia. Me questiono sempre a respeito das dificuldades atuais sobre a não aceitação da realidade pela grande maioria "cristã". Temos exemplos vívidos na CAF a esse respeito.Pessoas que apenas buscam o amparo material e não se esforçam ao entendimento espiritual. Apenas uma observação.

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  2. Obrigado Anna pela sua observação. Dos mais simples é que virão as demonstrações do amor mais puro.

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