Como Eurípedes Barsanulfo tornou-se espírita.
Em 1904, aos vinte e
cinco anos de idade, a Espiritualidade marcou o reencontro do discípulo de
Sacramento com a Doutrina Espírita.
Antes de Eurípedes
Barsanulfo converter-se ao Espiritismo (era católico), alguns parentes realizavam
sessões mediúnicas em Santa Maria, lugarejo distante 14 quilômetros do centro
de Sacramento – uma região montanhosa com terra vermelha e algumas casas
rústicas. As sessões em Santa Maria eram realizadas na casa de Honorato
Ferreira Cunha (tio de Eurípedes) situada na Fazenda Santa Maria.
Eurípedes Barsanulfo,
até então, não procurava inteirar-se a fundo do que sucedia em Santa Maria.
Ouvia, apenas, falar que inúmeros parentes seus haviam se tornado espírita;
inclusive, um irmão de sua mãe. Entre os parentes convertidos à Doutrina
Espírita havia um, porém, a quem Eurípedes dedicava especial afeição – seu tio
Mariano da Cunha Júnior, homem sem cultura, porém inteligente e bom.
No dia 28 de agosto de
1900, foi fundado pelo grupo o Centro Espírita “Fé e Amor” que tinha como
médiuns vários familiares de Eurípedes, dentre eles, Mariano da Cunha Junior (“Sinhô
Mariano”), tio de Eurípedes, médium receitista mecânico e de efeitos físicos.
O Centro Espírita “Fé e
Amor” atendia, gratuitamente, os enfermos com uma farmácia homeopática. As
receitas eram psicografadas por João Candido e Mariano da Cunha Júnior. As
sessões, ricas de fenômenos eram assistidas por lavradores das redondezas e
suas famílias.
Quando soube que o tio Mariano
havia se convertido ao Espiritismo, difamado pelo clero como a “doutrina de
Satanás”, Eurípedes, muito católico, lhe disse: - “O senhor, que foi
materialista, está agora ligado a essa doutrina…. Como foi isso possível? ”
Tio Mariano, que por
estranha coincidência trazia na mão a obra de Léon Denis, “Depois da Morte”,
respondeu, tranquilamente: - “Coisas do destino, meu sobrinho… pouco entendo de
Espiritismo para poder responder certo a você, que é moço culto e inteligente.
Mas, já que gosta tanto de ler, trago aqui um livro que lhe recomendo… leia com
atenção e veja se o Espiritismo é doutrina de Satanás. Esse livro não põe a
gente louco, não.”
Eurípedes pegou a obra,
e passou a noite inteira lendo o livro de Léon Denis. Trezentas e trinta e
quaro páginas repletas de profundo interesse. Admirou-lhe o estilo fluente e
surpreendeu-se com os conceitos filosóficos sobre a Vida e a Morte, que lhe
pareceram absolutamente corretos; encontrou na reencarnação a única explicação
racional para os desequilíbrios físicos, morais e sociais. O destino do ser
humano além-túmulo não mais lhe era uma esfinge indecifrável…
O livro luminoso de Leon
Denis era uma revelação fantástica! Escrito com uma lógica de ferro, quem
poderia, sem sofismas, refutá-lo? A Doutrina Católica parecia-lhe, agora
comparada à Doutrina Espírita, como que um conto de carochinha…
E Eurípedes, ao
devolver a grande obra disse: - “Meu tio, por essa eu não esperava! De
fato, este livro é um monumento! ”
- Fique com ele. É um
presente - respondeu seu tio. E Eurípedes releu-o. A segunda leitura consolidou
a primeira impressão e, o que lhe parecia estranho, é que havia aceitado com
naturalidade os princípios espíritas; aceitara-os sem lhes opor nenhuma
barreira!
Agora, para continuar
no Catolicismo só havia um meio – provar que o fenômeno espírita não existia e
que, portanto, o livro de Léon Denis não passava de devaneios filosóficos, não
obstante a lógica.
Dias depois, tio
Mariano voltou a Sacramento e disse a Eurípedes: - “Você precisa ir a Santa
Maria e ver os espíritos se comunicarem. ”
No ano de 1904, Eurípedes convida seu amigo José
Martins Borges para irem assistir a uma sessão espírita em Santa Maria. Ambos
chegaram a Santa Maria com o objetivo de observar tudo ao vivo. Entraram no
recinto respeitosos e os trabalhos já haviam iniciado.
A pequena sala achava-se totalmente tomada com todos os lugares ocupados e atrás da linha, onde se encontrava o médium Aristides Ferreira da Cunha, situavam-se dois lugares desocupados, providencialmente à espera dos dois visitantes.
Eurípedes acompanhou a leitura com atencioso
respeito e interesse. Tudo lhe era novo e surpreendente. Nunca se sentira tão
bem em outras ocasiões nos ofícios religiosos de que tomava parte.
Todavia admirava-se de ver homens incultos assumirem a grande responsabilidade da difusão do Evangelho do Senhor. Por exemplo, ali se achava o médium Aristides, indivíduo tão seu conhecido carregando um coração de ouro, mas com o cérebro vazio.
Um pensamento vibra na mente de Eurípedes e resolve fazer o seu pedido mentalmente:
- “Tudo compreendi na Bíblia, mas o meu
entendimento está fechado para as bem-aventuranças. Se é verdade que os espíritos
se comunicam com os vivos, rogo a João Evangelista esclareça-me através do
médium Aristides.
Alguns minutos após Eurípedes ouvia a mais extraordinária dissertação filosófico doutrinária que jamais conhecera em toda sua vida sobre o luminescente discurso de Jesus, por intermédio do intérprete solicitado.
Impossível atribuir a Aristides, semianalfabeto, aquela linguagem sublime, onde o magnetismo de poderosa eloquência empolgava até às lágrimas os presentes.
Eurípedes, na sua sensibilidade acurada, tomava-se,
sem entender, do élan envolvente de vibrações magnéticas que se desprendiam da
natureza espiritual da entidade comunicante.
A alocução clara e persuasiva, esclarecendo problemas do Espírito – no quadro das causas e efeitos - da vida além-túmulo, salientando as possibilidades do trabalho, nos roteiros do aprendizado maior, da multiplicidade das existências no imenso painel do progresso espiritual. Tudo deixara Eurípedes altamente impressionado.
Ao final da Luminosa exposição a entidade espiritual assinala sua identidade com o selo vibrante de fraterna saudação: Paz! João o Evangelista.
Terceiro filho de 15 irmãos, Eurípedes foi filho de Hermógenes de Araújo “seu Mogico” e de Jerônima Pereira de Almeida “dona Meca”.
Eurípedes Barsanulfo, nasceu em Sacramento, MG, em 01/05/1880
e desencarnou na mesma cidade, vitimado pela gripe espanhola em 01/11/1918,
com 38 anos de idade.
Referências:
(1) Eurípedes o homem e a missão. Corina Novelino. 4ª ed. IDE, 1981, 256p.
(2) Eurípedes Barsanulfo “o apóstolo da caridade”. Jorge Rizzini. 7ª ed. Edições Correio Fraterno, 1979, 72p.