segunda-feira, 30 de setembro de 2024

                         Como Eurípedes Barsanulfo tornou-se espírita.

Em 1904, aos vinte e cinco anos de idade, a Espiritualidade marcou o reencontro do discípulo de Sacramento com a Doutrina Espírita.

Antes de Eurípedes Barsanulfo converter-se ao Espiritismo (era católico), alguns parentes realizavam sessões mediúnicas em Santa Maria, lugarejo distante 14 quilômetros do centro de Sacramento – uma região montanhosa com terra vermelha e algumas casas rústicas. As sessões em Santa Maria eram realizadas na casa de Honorato Ferreira Cunha (tio de Eurípedes) situada na Fazenda Santa Maria.

Eurípedes Barsanulfo, até então, não procurava inteirar-se a fundo do que sucedia em Santa Maria. Ouvia, apenas, falar que inúmeros parentes seus haviam se tornado espírita; inclusive, um irmão de sua mãe. Entre os parentes convertidos à Doutrina Espírita havia um, porém, a quem Eurípedes dedicava especial afeição – seu tio Mariano da Cunha Júnior, homem sem cultura, porém inteligente e bom.

No dia 28 de agosto de 1900, foi fundado pelo grupo o Centro Espírita “Fé e Amor” que tinha como médiuns vários familiares de Eurípedes, dentre eles, Mariano da Cunha Junior (“Sinhô Mariano”), tio de Eurípedes, médium receitista mecânico e de efeitos físicos.

O Centro Espírita “Fé e Amor” atendia, gratuitamente, os enfermos com uma farmácia homeopática. As receitas eram psicografadas por João Candido e Mariano da Cunha Júnior. As sessões, ricas de fenômenos eram assistidas por lavradores das redondezas e suas famílias.

Quando soube que o tio Mariano havia se convertido ao Espiritismo, difamado pelo clero como a “doutrina de Satanás”, Eurípedes, muito católico, lhe disse: - “O senhor, que foi materialista, está agora ligado a essa doutrina…. Como foi isso possível? ”

Tio Mariano, que por estranha coincidência trazia na mão a obra de Léon Denis, “Depois da Morte”, respondeu, tranquilamente: - “Coisas do destino, meu sobrinho… pouco entendo de Espiritismo para poder responder certo a você, que é moço culto e inteligente. Mas, já que gosta tanto de ler, trago aqui um livro que lhe recomendo… leia com atenção e veja se o Espiritismo é doutrina de Satanás. Esse livro não põe a gente louco, não.”

Eurípedes pegou a obra, e passou a noite inteira lendo o livro de Léon Denis. Trezentas e trinta e quaro páginas repletas de profundo interesse. Admirou-lhe o estilo fluente e surpreendeu-se com os conceitos filosóficos sobre a Vida e a Morte, que lhe pareceram absolutamente corretos; encontrou na reencarnação a única explicação racional para os desequilíbrios físicos, morais e sociais. O destino do ser humano além-túmulo não mais lhe era uma esfinge indecifrável…

O livro luminoso de Leon Denis era uma revelação fantástica! Escrito com uma lógica de ferro, quem poderia, sem sofismas, refutá-lo? A Doutrina Católica parecia-lhe, agora comparada à Doutrina Espírita, como que um conto de carochinha…

E Eurípedes, ao devolver a grande obra disse: - “Meu tio, por essa eu não esperava! De fato, este livro é um monumento! ”

- Fique com ele. É um presente - respondeu seu tio. E Eurípedes releu-o. A segunda leitura consolidou a primeira impressão e, o que lhe parecia estranho, é que havia aceitado com naturalidade os princípios espíritas; aceitara-os sem lhes opor nenhuma barreira!

Agora, para continuar no Catolicismo só havia um meio – provar que o fenômeno espírita não existia e que, portanto, o livro de Léon Denis não passava de devaneios filosóficos, não obstante a lógica.

Dias depois, tio Mariano voltou a Sacramento e disse a Eurípedes: - “Você precisa ir a Santa Maria e ver os espíritos se comunicarem. ”

No ano de 1904, Eurípedes convida seu amigo José Martins Borges para irem assistir a uma sessão espírita em Santa Maria. Ambos chegaram a Santa Maria com o objetivo de observar tudo ao vivo. Entraram no recinto respeitosos e os trabalhos já haviam iniciado.

A pequena sala achava-se totalmente tomada com todos os lugares ocupados e atrás da linha, onde se encontrava o médium Aristides Ferreira da Cunha, situavam-se dois lugares desocupados, providencialmente à espera dos dois visitantes.

Eurípedes acompanhou a leitura com atencioso respeito e interesse. Tudo lhe era novo e surpreendente. Nunca se sentira tão bem em outras ocasiões nos ofícios religiosos de que tomava parte.

Todavia admirava-se de ver homens incultos assumirem a grande responsabilidade da difusão do Evangelho do Senhor. Por exemplo, ali se achava o médium Aristides, indivíduo tão seu conhecido carregando um coração de ouro, mas com o cérebro vazio.

Um pensamento vibra na mente de Eurípedes e resolve fazer o seu pedido mentalmente:

- “Tudo compreendi na Bíblia, mas o meu entendimento está fechado para as bem-aventuranças. Se é verdade que os espíritos se comunicam com os vivos, rogo a João Evangelista esclareça-me através do médium Aristides.

Alguns minutos após Eurípedes ouvia a mais extraordinária dissertação filosófico doutrinária que jamais conhecera em toda sua vida sobre o luminescente discurso de Jesus, por intermédio do intérprete solicitado.

Impossível atribuir a Aristides, semianalfabeto, aquela linguagem sublime, onde o magnetismo de poderosa eloquência empolgava até às lágrimas os presentes.

Eurípedes, na sua sensibilidade acurada, tomava-se, sem entender, do élan envolvente de vibrações magnéticas que se desprendiam da natureza espiritual da entidade comunicante.

A alocução clara e persuasiva, esclarecendo problemas do Espírito – no quadro das causas e efeitos - da vida além-túmulo, salientando as possibilidades do trabalho, nos roteiros do aprendizado maior, da multiplicidade das existências no imenso painel do progresso espiritual. Tudo deixara Eurípedes altamente impressionado.

Ao final da Luminosa exposição a entidade espiritual assinala sua identidade com o selo vibrante de fraterna saudação: Paz! João o Evangelista.

Terceiro filho de 15 irmãos, Eurípedes foi filho de Hermógenes de Araújo “seu Mogico” e de Jerônima Pereira de Almeida “dona Meca”. 

Eurípedes Barsanulfo, nasceu em Sacramento, MG, em 01/05/1880 e desencarnou na mesma cidade, vitimado pela gripe espanhola em 01/11/1918, com 38 anos de idade. 


Referências:

(1) Eurípedes o homem e a missão. Corina Novelino. 4ª ed. IDE, 1981, 256p.

(2) Eurípedes Barsanulfo “o apóstolo da caridade”. Jorge Rizzini. 7ª ed. Edições Correio Fraterno, 1979, 72p.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

 

Mesas que giram e o futuro da Humanidade

Que relação pode ter uma mesa que se move com a moral e o futuro da Humanidade?

Dessa mesa, que gira e fez sorrir desdenhosamente, toda uma sociedade, Allan Kardec revelou uma ciência, assim como a solução dos problemas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver.

Todos os fenômenos espíritas, sem exceção, resultam de leis gerais. De sobrenaturais só têm a aparência. Revelam-nos uma das forças da Natureza – o ESPÍRITO - força desconhecida, ou, por melhor dizer, incompreendida até agora.

Esta filosofia não pode ser concebida como obra de um cérebro humano. Ela veio toda dos Espíritos. E antes de criticá-la levianamente, é imperioso conhecê-la a fundo. Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala.

Demonstrando a existência e a imortalidade da alma, o Espiritismo reaviva a fé no futuro, levanta os ânimos abatidos e faz suportar com resignação, as vicissitudes da vida.

Ao proclamar e provar a existência da vida espiritual como natural continuidade da vida na Terra, colhendo, homens e mulheres, o que na existência física semearam, dá base à justiça, e justifica a pratica da caridade e ao amor do próximo.

Por outro lado, na tese da existência única temos: se tudo se acaba com a morte, porque impor a si mesmo sacrifício ou privação qualquer? Pelo contrário, não será mais natural que trate de viver o melhor possível? Não será isso a validação ao egoísmo?

O desejo desenfreado de ter, de possuir muito para melhor gozar. Desse desejo nasce a inveja dos que mais possuem e daí à vontade de apoderar-se daquilo que ao outro pertence, o passo é curto.

Estabelece-se então a máxima, que passa a ser racional, do “cada um por si”, em que ideias como fraternidade, consciência, dever, humanidade e progresso, não passam de vãs palavras. Não é este o panorama atual de grande parte da vida social na Terra, causadora de tantos conflitos e sofrimentos?

A Humanidade tem que entrar em uma nova fase - a do progresso moral - e o Espiritismo é a porta que conduz a esta fase.

Contra a vontade de Deus não poderá prevalecer a má vontade dos homens.

Sendo a felicidade e o consolo, das coisas mais almejadas pelo homem na Terra, aquele que estudar em profundidade o Espiritismo, as experimentará. Essa a razão pela qual, as ideias espíritas se propagam muito rápido, o segredo da força que o fará triunfar.

Em sua filosofia, o Espiritismo explica o que NENHUMA OUTRA doutrina ou crença religiosa havia explicado. Nela encontramos solução racional para os problemas que, no mais alto grau, interessa ao futuro da humanidade.

No desenvolvimento dessas ideias, três períodos distintos experimentam aquele que procura conhecê-las: primeiro, o da curiosidade; segundo, o do raciocínio e da filosofia; terceiro, o da aplicação e das consequências.

O período da curiosidade é breve; a curiosidade dura pouco.

O mesmo não acontece com o que desafia a meditação séria e o raciocínio.

O terceiro período é o desafio. A prática da Lei Divina, o “fora da caridade não há salvação”. A busca pela modificação do homem velho para o novo.  

Muitos que aderem superficialmente ao Espiritismo se caracterizam pelo gosto das manifestações dos espíritos, mas em nada se modificam; os que vão um pouco mais além, estudam e enxergam a consequência moral destas manifestações; e por fim, os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral e deflagram em si, a reforma íntima.

Em qual destas fases você está situado?

No futuro, da adesão das massas populacionais aos princípios que o Espiritismo nos apresenta, resultará profunda modificação no estado da Humanidade, compreendendo que está deverá se operar no sentido do bem.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

 

Espiritismo com Jesus, na intimidade doméstica.

 

O culto do Mestre, em casa                                                     É novo sol que irradia                                                               A música da alegria                                                                 Em santa e bela canção.  

É a glória de Deus que vaza                                                    O dom da Graça Divina,                                                            Que regenera e ilumina                                                           O templo do coração.

Irene S. Pinto – trecho da mensagem “Jesus no Lar” do livro Luz no Lar

 

Singelo apontamento de Jesus descrito em divina mensagem assinada por Neio Lucio, no livro Luz no Lar da luminosa mediunidade de Chico Xavier, nos induz a refletir sobre as coisas da vida. Infelizmente, somente pequena fração de nosso tempo de vida na Terra, dedicamos atenção aos ensinamentos divinos, atraídos que somos pela enormidade de preocupações que nos tomam o dia a dia, em claro atendimento aos ditames do materialismo e egoísmo que ainda e por muito tempo, nos regerão.                                                                             

Criamos uma couraça, que voluntariamente ou não, nos afasta do que é essencial.

Depois, no entardecer da existência, ou nas dores colhidas após a decesso, as queixas se avolumam e geralmente, somos tomados pela revolta sem razão.

Mas vamos ao trecho referido, onde Jesus ensina: “A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se nos não habituamos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante”?

Refere-se, o inolvidável Divino amigo, às nossas atitudes na intimidade doméstica.

Como eu disse, simples enunciados ao alcance do cumprimento de todos que, insensatos, olvidamos.

O preço que pagamos, desta indiferença é muito alto. Irmão X, espírito que assina texto no livro referido, esclarece: “os hospitais e principalmente os manicômios apresentam significativo número de enfermos, que não passam de mutilados espirituais dessa guerra terrível e incruenta na trincheira mascarada sob o nome de lar”. (grifo nosso)

Em outras palavras, o lar representa no micro, o que a sociedade é no macro. Uma sociedade, um país ou um planeta que não olha com atenção para a sua célula fundamental, que é o lar, cedo ou tarde manifestará nos tecidos que os compõem a enfermidade, que somente será revertida por ingentes sacrifícios.   

Por acaso, não é esse o quadro atual que verificamos no panorama terrestre? Se o lar terreno é a primeira escola e o primeiro templo da alma para o espírito imortal, imagine, distinto leitor, o quanto temos errado na educação e orientações dos seres que compõem as famílias humanas.

De certo, é valido ressaltar que, habitualmente, o reduto doméstico se estrutura em bases de irmãos que renascendo juntos, sob o ditame da consanguinidade, devem trabalhar juntos, ainda que sob dificuldades semeadas no pretérito, a fim de alcançarem harmonia.

Somente a Doutrina Espírita nos esclarece que aqueles que prejudicamos no passado, retornam a nós na condição de familiares, a fim de que nos harmonizemos, resgatando nossos débitos.

Para este sublime objetivo, uma existência no corpo, às vezes, não é suficiente para sanar feridas e velhos conflitos erigidos ao longo de séculos pelas almas envolvidas na trama. Por isso, nestes casos, a convivência compulsória no lar, pode ser remédio amargo que todos precisamos aprender a tolerar e a ingerir.

Nesse aspecto, Espiritismo aliado ao Cristo, desempenha o mais importante movimento renovador entre as criaturas na Terra.

Não há outro caminho que não seja o do conhecimento, do sacrifício, da bondade e do perdão na intimidade doméstica, para se alastrar em difusão à sociedade como um todo. Quando clamamos pela paz entre as nações, temos contribuído semeando harmonia em nosso lar?

Aclarando a origem de nossos conflitos, referindo-se aos dramas vividos no pretérito, a Doutrina Espírita, acende um facho de luz em cada coração, inclinando as almas rebeldes ou enfermiças à justa compreensão do programa sublime de melhoria individual, em favor da tranquilidade coletiva e da ascensão de todos.

ESPIRITISMO COM JESUS no lar é isso. Moralização das criaturas.

 

Referências

(1) Diversos Espíritos. Luz no Lar. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 3ª ed. Brasília. Editora FEB, 1978. 166p.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 

Desencarnar no dia certo ou no dia exato

A morte para as criaturas terrestres terá um dia determinado e virá aos homens pelos desígnios de Deus?

Ouvimos frequentemente a frase: “Morreremos quando chegar a hora, antes disso não. Tudo está determinado. Só peru morre na véspera”.

Será? Repito o questionamento: será?????

Reflitamos então, caro leitor.

Vivemos em um planeta, em que pese os avanços da medicina, surgem e proliferam doenças das quais, muitas delas, ainda não estão catalogadas e o tratamento adequado ainda não existe.

As guerras enxameiam entre os países, que pela sanha ensandecida de homens brutalizados ou desequilibrados, provocam a morte de milhares, dentre homens, mulheres e crianças, jovens e idosos, sem distinção.

Desde a segunda guerra mundial, segundo pesquisa do Instituto de Investigação da Paz de Oslo, (Noruega), no ano de 2023, foi registrado o maior número de conflitos armados, totalizando 59 em todo mundo (1). Em 2024, o mundo conta com mais de 30 guerras em andamento ceifando milhares de pessoas.

As pressões e exigências do mundo moderno, levam o homem a viver sob constante estresse, pressionando a máquina física, comprometendo a sua saúde. Os vícios, o álcool, o fumo e o uso de drogas, assim como os excessos alimentares, aliados à falta de cuidados adequados à saúde, vão minando a resistência orgânica, de fora para dentro, abreviando a vida física, no que podemos considerar, verdadeiros casos de suicídio indireto.

Lembremos também das mortes provocadas no trânsito maluco de qualquer cidade do Brasil, que por certas estatísticas, matam mais que certos conflitos armados.

E como não citar os tristes casos de mortes por “balas perdidas”, que assumem contornos ainda mais dolorosos quando envolvem crianças.

Por outro lado, de dentro para fora, matamo-nos aos poucos pelo cultivo de pensamentos negativos, sentimentos como ciúme, ódio, inveja, rancor e revolta, dentre outros. Reagimos quando contrariados, com tamanha irritação e agressividade que não é raro “implodirmos” nosso coração causando os ataques e infarto cardíaco, bem como acidente vascular cerebral, que quando não provocam o desencarne, deixam o ser em difíceis condições para a vida.

Sem contar as graves doenças de etiologias não completamente estabelecidas, como o câncer, ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), Pênfigo foliáceo, a doença de Alzheimer e outras demências, e as doenças autoimunes que nutridas por remorsos, mágoas, depressão e angústias, favorecem a sua manifestação e evolução.

Sem considerar o suicídio, que engrossa fortemente estas estatísticas, elencamos rapidamente, várias situações que podem, a qualquer momento, provocar a partida do ser humano, deste para o outro mundo.

Deduz-se que são milhares e mais milhares de almas que tem suas vidas abreviadas na Terra.

Aliás, a este respeito, encontramos na obra Missionários da Luz (2), o conceito emitido pelo assistente Manassés, em produtivo diálogo com André Luiz, quando em visita ao Instituto de Planejamento Reencarnatório, se refere à condição dos espíritos “completistas”.

Vejamos o texto: “Trata-se de um título - explicou Manassés - que designa os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferecia. Em geral, quase todos nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades muito importantes no desperdício das forças fisiológicas. (...) por vezes, desprezamos cinquenta, sessenta, setenta por cento e, frequentemente, até mais, de nossas possibilidades. (grifo nosso)

Como nós neste artigo, André Luiz reflete sobre o conceito e afirma: “Lembrei-me dos desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em todos os países, doutrinas e situações, (...) alimentando enganos e fantasias, destruindo o corpo e envenenando a alma. (Grifo nosso).

Após estas reflexões, retornamos à pergunta inicial: Será que todos morremos ou desencarnamos em um dia e hora já determinado? Diferentemente da ave galiforme do gênero Meleagris, prato principal da Ceia de Natal de muitas famílias, jamais perecemos de véspera e nossa transferência ao mundo espiritual, determinada antes de nascermos, deverá ser cumprida?

Recorrendo à extensa literatura espírita, riquíssima nas considerações sobre este assunto, encontramos no prefácio do livro Assuntos da Vida e da Morte (3), assinado pelo espírito Emmanuel, orientações que certamente, auxiliam a nortear nossas reflexões sobre esta importante questão.

Elucida Emmanuel que: “quando a pessoa humana recebe com paciência as dificuldades passageiras que precedem o fim do corpo de que se utilizou para o estágio, no mundo físico, encontrando a morte em ocorrências ou moléstias com as quais não contava, poder-se-á concluir com razão, que o desenlace se verificou conforme as determinações das Leis Universais que, a rigor, sintetizam a Lei Divina. Nesses casos, é razoável declarar que a desencarnação se verificou, em nome de Deus, no dia certo”.

Nestas situações, segundo explica Emmanuel, o espírito deixa o corpo no dia certo, estava determinado.

Em contrapartida, afirma: “Não sucede o mesmo (grifo nosso) quando a morte se debita à conta dos desequilíbrios ou à imprudência dos homens que trocam a própria vida por atos conscientes e aventuras outras, abusando do seu próprio livre-arbítrio”.

Perceberam? “Não sucede o mesmo”, ou seja, me parece que é possível sim desencarnarmos fora do tempo que havia sido determinado. De maneira didática e com uma síntese característica do espírito Emmanuel, ele conclui estabelecendo:

“Compreendamos, pois, que a desencarnação tem o dia certo, segundo a Lei Divina, e o dia exato, conforme o comportamento do homem. Entendamos, assim, que a morte na Terra age em conexão com a Lei Divina ou com as diretrizes errôneas das criaturas quando se tornam irresponsáveis.

Eis porque considerarmos que a desencarnação se nos apresenta em aspecto bilateral: a cessação da vida no corpo de matéria densa de acordo com os Propósitos Divinos ou conforme os desajustes dos homens. Dia certo para a morte, em nome de Deus ou dia certo para o desenlace, em nome das criaturas humanas. ” (grifos nossos)

É um importante assunto para refletirmos. Tal conceito neste artigo estudado, nos demonstra o quanto ainda na Terra, é fundamental saibamos usar e bem nossa liberdade de escolha.

É também lícito concluir que, habitando o planeta Terra, mundo de provas e expiações, onde o mal - plasmado pelo próprio homem - ainda predomina, caracterizando uma terra de foras da lei, ao decidirmos não viver conforme a Lei Divina que a todos, sem distinção, nos rege, não será de estranhar nossa partida, antes do previsto.

- “a desencarnação se nos apresenta em aspecto bilateral”

...“a desencarnação tem dia certo segundo a Lei Divina e o dia exato, conforme o comportamento humano” (grifos nossos)

Espero que sigamos da melhor maneira nossas vidas para encontrar o dia certo e não o dia exato.

Em assuntos da morte, é imperioso afirmar que não podemos esquecer nossas responsabilidades, assim como o homem em qualquer lugar responderá por si próprio, fazendo-nos recordar a assertiva de Jesus: “A cada um será dado segundo as suas obras”.

 

Referências

(1) Número de conflitos armados em 2023 foi o mais elevado desde 1946. agênciaBrasil 10 junho 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2024-06/numero-de-conflitos-armados-em-2023-foi-o-mais-elevado-desde-1946. Acesso em 05 setembro 2024.

(2) Luiz, André. Missionários da Luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 15ª ed. Brasília. Editora FEB, 1982. 347p

(3) Diversos Espíritos. Assuntos da Vida e da Morte. Francisco Cândido Xavier e Paulo de Tarso Ramacciotti. 10ª ed. Editora GEEM, 2020. 152p.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Bem aventurados os mansos, porque herdarão a Terra.

 “Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral”

Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo IX - Instruções dos Espíritos - Lázaro (Paris - 1863)

Se tomarmos como premissa que a violência tem sido a característica mais própria da personalidade humana nestes tempos, manifestando sua natureza animal muito acima das virtudes que nos aproximam do alto e se, somente herdarão a Terra os que forem mansos, cremos que há uma grande chance, de, em breve período de tempo, o mundo ficar deserto ou com raríssimos habitantes.

Ser manso apresenta hoje uma conotação deturpada do sentido a que se referiu Jesus, estabelecendo como Lei a doçura, a moderação, a afabilidade e a paciência. É aquele ou aquela que se mantém calmo ou equilibrado diante dos acontecimentos negativos e conflitantes, numa clara demonstração que, sobretudo, conseguiu sobrepor-se, sendo dono de si mesmo no controle de suas reações e emoções. Mérito conquistado ao longo das existências.

Estas virtudes, que em Jesus apresentam-se no seu grau máximo, ontem como hoje, foram e continuam sendo desprezadas pelos materialistas, pelos que gostam de levar vantagem em tudo, os adeptos da conhecida lei de Gérson.

Ao contrário dos mansos, os conhecidos como “homens de verdade”, os que exteriorizam impulsos de agressividade, são os mesmos que também geram a infelicidade no lar, o desentendimento no ambiente profissional, a discórdia na sociedade, as lutas entre os indivíduos, as guerras, enfim provocam a confusão no mundo.

Melhor pararmos e pensarmos para que lado desejamos seguir.

O espírito superior Lázaro na codificação, afirmam no capítulo referido, que:                        

“a virtude de nossa geração é a atividade intelectual, e o vício é a indiferença moral”.

Essa indiferença corrói nossa sociedade pelo predomínio dos vícios e da corrupção, assemelhando-se em muito aos tempos em que o Cristo esteve encarnado entre nós, há dois mil anos. Neste aspecto, quase nada mudou.

Uma verdadeira esgrima mental e de palavras que forjam nas criaturas desde as desavenças domésticas até os conflitos armados entre as nações.

Ou seja, se a mansuetude não nos caracteriza o coração e a alma, por pouco, nos transformamos em verdadeiros vulcões prestes a explodir extravasando larva ardente em forma de atos e palavras.

No fundo, agindo assim, refletimos a falta do Cristo em nós e ficamos ao sabor das circunstâncias, e o espírito permanece flutuando sem destino seguro.

Com auxílio da reencarnação, e consequente aplicação da lei de ação e reação, em que somos levados a receber de volta todo o mal praticado, vamos conseguindo, a duras penas, esgotar a violência que teima em manchar nosso íntimo. Em outras palavras, ajustando-nos às leis divinas, aprendendo a conter impulsos primitivos, vamos lapidando, qual paciente escultor, o mármore de nossos corações transformando a criatura imperfeita que ainda somos, em anjo, nos candidatando assim, à herança Divina, de possuirmos enfim a Terra regenerada. 

Referência

(1) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 131ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 410p.


                                              O Equívoco de Jeremias No ano de 1961, quando o Livro dos Médiuns completava o seu primeir...