Aprendizado no diálogo
Neste artigo com a transcrição do diálogo entre o dialogador e o
espírito desencarnado, ocorrida durante reunião mediúnica no Grupo Espírita da
Fraternidade, colhemos excelentes oportunidades de lições para todos,
encarnados e desencarnados.
- Quando é que eu vou me livrar disso… uma vida não basta de
sofrimento? Eu arrastei essa doença a vida toda – queixou-se no início da
comunicação, o infeliz irmão desencarnado, que tossia sem parar.
- Você teve tuberculose quando encarnado? Perguntei tendo a
impressão de que o espírito já conhecia sua condição de desencarnado.
- Sim isso mesmo. Gastei a vida com essa maldita, e ainda, você
não vai acreditar, você não vai acreditar - repetiu por duas vezes, como querendo
dar ênfase ao que iria dizer.
- Pode dizer. Vamos ver se eu acredito ou não – disse em tom de
desafio, para descontrair. E o irmão revelou:
- Eu já sou uma alma penada, já estou morto.
- E mesmo assim... - ia dizer e fui interrompido:
- Eu continuo com essa tosse maldita e não tenho paz. Um só minuto
de paz e não consigo dormir.
- Estou entendendo e acredito em você. Você não consegue dormir?
- Não. Basta deitar que começo tossir - e tossia novamente.
- E a falta de ar, você acredita? Falta de ar… até parece que eu
preciso de ar.
Aproveitei e revelei o que ele nem imaginava que pudesse lhe
acontecer:
- Olha se você bobear e não se cuidar pode falecer deste outro lado
novamente, porque aí também se morre – arrematei.
- Era o que me faltava – respondeu revelando ignorar a situação.
- Esta vendo? Agora você que não me acredita.
- Não mesmo.
- Pois eu lhe afirmo. Se morre aí também.
- Isso não acredito.
- Mas é para acreditar. Morre-se aí, para renascer aqui.
- Apesar do que, dizer o que eu acredito ou não acredito está
difícil, depois de tanta coisa que eu estou vendo por aqui – disse ele,
descrente das coisas que tinha como certas.
Depois de um pequeno silêncio, perguntei:
- Como você ficou sabendo que já havia passado para o outro lado?
- Ué…e eu não vi? – respondeu com naturalidade. Eu fiquei lá e vi
tudo.
- Quer dizer que acompanhou o seu próprio velório?
- Sim, e lhe digo que é a coisa mais triste na vida do homem, uma
tristeza. Para mim, aquilo foi pior que a morte.
- Não diga? Mas você já
superou isso.
- Já. E os comentários durante o velório!
- Você ouvia tudo?
- Eu estava ali de corpo presente. Posso dizer isso, de corpo
presente?
- Pode, porém no caso, trata-se do corpo espiritual. Mas isso é
outra história.
- Que seja. As pessoas no velório nem imaginam. Você sabe que
alguns me percebiam. Eu não sei como. Não me viam, mas me percebiam.
Aproveitei para lhe orientar, informando:
- Saiba você que, na maioria das vezes, os que morrem ficam por
ali acompanhando o próprio velório. São poucos os que deixam a carcaça e se
apresentam em condição de serem recolhidos e auxiliados após a
morte.
- É mesmo? Sabia disso não – respondeu com tom de surpresa.
- A maioria vê e se perturba porque não se reconhece morto e se
sente ainda vivo. Pensam consigo mesmo,
como se pode morrer e continuar vivo?
- Eu sofri essa perturbação que você se referiu - confirmou o
irmão desencarnado, o qual eu dialogava.
- Você tinha alguma iniciação sobre esse conhecimento?
- Eu acreditava na vida após a morte, mas não que fosse assim com
essa realidade. Para mim, se ia para um lugar bom ou não, de acordo com a vida
da pessoa.
- Qual era sua atividade na Terra ainda quando “vivo”? – arrisquei
perguntar.
- Eu não podia fazer muita coisa não senhor, por causa dessa
doença. Ela me pegou ainda muito jovem.
- Você era fumante?
- Nem cheguei a fumar, repito, a doença me pegou muito jovem.
- Você procurou saber porque desenvolveu essa doença tão grave, em
idade tão precoce?
- Não. Porque não tem muito tempo que eu estou assim, frequentando
outros lugares. Depois que me vi deste lado, eu descambei sabe? Porque
aqui desse outro lado, também se descamba, eu me perturbei, andei por aí
sem rumo. Daí, por muito tempo, que eu nem sei precisar quanto, eu comecei a perseguir
algumas pessoas, sabe?
- Pessoas do seu relacionamento, do seu convívio?
- Sim e perdi muito tempo. Logo depois procurei, desse outro lado,
uma igreja. Frequentei a igreja e foi bom para mim. Arrependi-me das coisas que
estava fazendo.
- Parou de perseguir os outros?
- Parei, agora até faço oração por eles.
- Poxa! Que mudança positiva, meus parabéns - respondi para
motivá-lo.
- Mas eu continuo com essa doença - e tossia, interrompendo a
fala.
Aproveitei e indaguei sobre como ele havia chegado em nossa
reunião.
- Você sabe onde se encontra?
- Contaram-me que aqui é um pronto-socorro. Passei por uma triagem
e devido minha condição com essa doença, encaminharam-me para um tratamento. Daí,
vim parar aqui.
- Chegou a ser internado em algum hospital ou veio direto para
cá?
- Não, vim direto para cá.
- Então eu vou te informar. Vamos iniciar uma terapia
bioenergética com um passe, orientação e uma prece. E depois que concluirmos o
diálogo, você será encaminhado para um hospital para dar continuidade ao tratamento.
- Tem uma coisa que eu fiquei, como posso lhe explicar, muito
surpreso. Sabe o senhor, que eles me disseram que essa doença tem um lado muito
ruim, mas também um lado bom. Que eu vou, com o tempo, saber do que essa doença
me livrou. Olha só. Você está entendendo? Pois eu não entendo.
Sim, entendo perfeitamente. Bem rapidamente eu te diria, que a
doença livrou você de piorar muito mais sua situação.
- Pode ser que sim, porque eu tive uma vida muito limitada. Eu não
podia abusar de nada, de bebida, de vícios. As pessoas tinham medo, não se
aproximavam de mim, e, portanto, eu vivia isolado.
- Você se recorda quantos anos você viveu na Terra?
- Próximo de uns 40 e poucos anos. E há muito tempo que estou do
lado de cá. O tempo parece que passa de maneira diferente, onde estou. Fiquei
também um tempo adormecido. Quando eu parei de perseguir aquelas pessoas eu
passei uma fase de adormecimento. Eu acho que foi isso. Eu não sei muito bem.
Só sei que hoje estou aqui.
Após um breve silêncio, propus:
- Vamos iniciar nosso tratamento?
- Você é médico?
- Não, mas sou profissional da saúde também.
- E o senhor está na Terra?
- Sim, estou encarnado na Terra, não sei por quanto tempo. O tratamento
que você irá iniciar, não precisa ser médico para conduzi-lo, basta ter boa
vontade e amor no coração para doar, em conjunto à energia dos espíritos. Após,
você será conduzido a um hospital onde os médicos darão continuidade ao seu
tratamento.
Me parecendo um pouco desanimado, o irmão desencarnado fez uma
afirmação importante:
- Se todos soubessem que as doenças podem persistir após a morte.
A pessoa pensa que morre e se livra de tudo. E lá no meu velório eles diziam:
agora descansou; agora ele está curado; parou de sofrer; depois de sofrer a
vida toda, agora parou de sofrer, descansou, eles falavam assim e eu ouvia
tudo.
- Note você, como o conhecimento da vida espiritual pode ser
importante para o equilíbrio dos que desencarnam. O local em que você está
iniciando o tratamento, é um centro espírita, que é um pronto-socorro das almas.
- Mas como, se eu sou convertido na igreja?
- Não há problema irmão. O tratamento que irá receber, independe
de qual seja sua crença, pois respeitamos todas elas, aliás, como deve ser em
todos os lugares. Você está recebendo terapia energética, assim como Jesus curava
a maioria das pessoas que o procuravam.
Claro que não temos a força do Cristo, mas reunidos aqui em nome
dele e, obedecendo aos desígnios superiores, ofereceremos o melhor que temos.
Vamos mentalizar o seu pulmão, o órgão mais afetado pela doença
para que as energias possam penetrar removendo as impurezas deste órgão, reduzindo
as suas expectorações, as suas tosses e sua falta de ar.
Imaginemos que Jesus estivesse estendendo a você um copo d'água. O
mestre Jesus estendendo para você um copo d'água orientando que você o ingira.
Beba dessa água cristalina meu filho, mas procure a água pura, que
é o amor, que é a caridade, que é o perdão. Assim como você perdoou os seus adversários
e agora está orando por eles. Essa é a verdadeira água que sacia a sede do
espírito.
A prece do Pai Nosso foi realizada. Após, acrescentei:
- Renove-se meu irmão, sempre é tempo de se renovar. Que essa
prece possa lhe restituir as energias, induzindo a restauração das suas células
perispirituais. Que elas se regenerem,
em nome de Jesus e em nome de Deus.
Após um silêncio breve, perguntei:
- Sente-se bem meu irmão?
- Eu estou assim, renovado. Sinto-me renovado espiritualmente -
disse calmamente.
- É um recomeço, e um bom recomeço meu irmão.
- Eu senti que essa água foi lavando todas as secreções que me
dificultavam respirar. O ar quase não passava, e agora sinto mais facilidade em
respirar.
- Tua fé favoreceu sua melhora – emendei.
- Como é bom conhecer Jesus, aprender Dele todo dia, procurar o
amor Dele. Sinto uma força, uma convicção dizendo que Ele irá me ajudar.
Sentindo que a comunicação mediúnica se encaminhava para o fim,
procurei acrescentar, para fortalecer ainda mais a fé nascente no irmão que, como
tantos outros que aportam ao mundo espiritual, ignoram o que lhes aguarda:
- Agora você está experimentando o grande bem que a doença provocou
em você. Ela te conduziu a esse sentimento de religiosidade, que antes, ainda não
havia experimentado.
- É isso… é verdade. Eu era uma pessoa revoltada, porque eu notava
as pessoas aproveitando a vida enquanto eu sofria. Por muito tempo, fiquei muito
revoltado.
Porém, sinto que estou me renovando.
Agora eu até choro, coisa que eu nunca fiz na minha vida, mesmo
doente. Hoje eu choro e não me envergonho mais. E como estou respirando, o ar está
passando, que incrível! – falou feliz e me perguntou: - Você não acha estranho
eu falar isso?
- Não, por quê? Respondi, entendendo a intenção dele, mas neguei
para que ele esclarecesse:
- Porque eu deveria pensar que se estou morto, qual a necessidade
de respirar? Mas é necessário, você acredita? E eu sinto o ar entrar, porque eu
tenho pulmões.
Respondi elucidando: - Eu acredito sim. Aqui no centro espírita nós
estudamos isso.
- Ah é?
- Procure estudar sobre esses assuntos que te constituíram em
novidade, desde que se percebeu desencarnado. Estude para melhor compreender.
- Eles já me falaram isso. A primeira coisa que eu preciso é
compreender e conhecer Jesus, porque sem conhecer Jesus, sem saber sobre Ele,
eu não vou compreender nada na vida nem na morte, entende?
- Entendo. Graças a Deus.
- Estou muito feliz e agradecido, e até uma próxima oportunidade.
Encerrada a comunicação, percebi, refletindo, que atravessar a
fronteira entre as dimensões, pelo fenômeno da desencarnação, será para cada
um de nós, uma experiência diferente, mas com certeza, feliz ou não, de acordo com
nossos pensamentos e atos.