segunda-feira, 1 de julho de 2024

 

Espírito com corpo degenerado – Ovoidização – III   Final

“A perturbação vem de inesperado, instala-se à pressa; entretanto, retira-se muito devagar. Aguardemos a obra paciente dos dias”         Gúbio - Libertação 


Neste último artigo sobre o tema da ovoidização, nossas reflexões serão baseadas em caso descrito na obra Libertação, em sua primeira edição datada de 1949, da série conhecida como “Vida no mundo Espiritual” trazida à lume pelo espírito André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier.

Na obra referida o autor espiritual acompanhado por Elói e o instrutor Gúbio, descreve situações vivenciadas em dimensão denominada Abismo, em um local considerado como uma cidade estranha, a cidade dos gregorianos, com o propósito de resgatar um irmão chamado Gregório, comprometido nos últimos sete séculos com as hostes do mal.

Assim descreve, André Luiz, sobre sua primeira visualização de um ovóide: “Ante o intervalo espontâneo, reparei, não longe de nós, como que ligadas às personalidades sob nosso exame, certas formas indecisas, obscuras. Semelhavam-se a pequenas esferas ovóides, cada uma das quais pouco maior que um crânio humano (grifo meu). Variavam profusamente nas particularidades. Algumas denunciavam movimento próprio, ao jeito de grandes amebas, respirando naquele clima espiritual; outras, contudo, pareciam em repouso, aparentemente inertes, ligadas ao halo vital das personalidades em movimento. Fixei, demoradamente, o quadro, com a perquirição do laboratorista diante de formas desconhecidas. Grande número de entidades, em desfile nas vizinhanças da grade, transportavam essas esferas vivas, como que imantadas às irradiações que lhes eram próprias. Nunca havia observado, antes, tal fenômeno”.

O instrutor Gúbio, nesta oportunidade, refere-se por primeira vez sobre assunto muito pouco conhecido e ainda menos estudado pelos espíritas, que é a segunda morte

“André – respondeu ele, circunspecto, evidenciando a gravidade do assunto –, compreendo-te o espanto. Vê-se, de pronto, que és novo em serviços de auxílio. Já ouviste falar, de certo, numa “segunda morte”.

André Luiz responde que já conhecia o referido fenômeno originado por outras duas razões. Porém ignorava esta nova possibilidade, a que o instrutor Gúbio acrescenta para o saber de André Luiz e o nosso: “...tanto quanto ocorre aos companheiros respeitáveis desses dois tipos, os ignorantes e os maus, os transviados e os criminosos também perdem, um dia, a forma perispiritual. Pela densidade da mente, saturada de impulsos inferiores, não conseguem elevar-se e gravitam em derredor das paixões absorventes que por muitos anos elegeram em centro de interesses fundamentais. Grande número, nessas circunstâncias, mormente os participantes de condenáveis delitos, imantam-se aos que se lhes associaram nos crimes”.   

Maior clareza no esclarecimento impossível. A ovoidização é a perda da forma perispiritual. Segundo vimos nos artigos anteriores, é o retorno ao corpo mental, segundo explica André Luiz e nós concordamos.

O corpo perispiritual é transformável, perecível, se desgasta e.....também sofre o fenômeno da morte. Daí ser denominado nas obras de André Luiz, como a segunda morte. A esse respeito, recomendo fortemente a leitura do livro A 2a morte de Odilon, excelente obra ditada pelo Dr. Inácio Ferreira, psicografada pelo médium Carlos Baccelli, em que é descrita a passagem do Dr. Odilon para plano superior, perdendo em razão disso, a forma perispiritual. Estudemos estas obras, esclarecendo-nos sobre importante assunto que é afeto a todos os seres encarnados ou não, espíritas ou não.

Continuando o relato do livro Libertação, André faz oportuno questionamento sobre as formas ovóides: “E se consultarmos esses esferóides vivos? ouvir-nos-ão? Possuem capacidade de sintonia”?

Ao que Gúbio esclarece, solicito: “Perfeitamente, compreendendo-se, porém, que a maioria das criaturas, em semelhante posição nos sítios inferiores quanto este, dormitam em estranhos pesadelos. Registram-nos os apelos, mas respondem-nos, de modo vago, dentro da nova forma em que se segregam, incapazes que são, provisoriamente, de se exteriorizarem de maneira completa, sem os veículos mais densos que perderam (grifo meu), com agravo de responsabilidade, na inércia ou na prática do mal. Em verdade, agora se categorizam em conta de fetos ou amebas mentais, mobilizáveis, contudo, por entidades perversas ou rebeladas”.

É bom lembrar, que o ovóide é também uma forma física que reveste o espírito, embora em tipo de matéria bem diferente daquela que conhecemos, daí a coerência e oportunidade da questão.

Da resposta de Gúbio, quantas elucidações em tão poucos linhas. Dentre as várias reflexões que nos é lícito fazer, a que destacamos no grifo, nos remete a pensar que para o atual estágio evolutivo da maioria dos espíritos encarnados e desencarnados da Terra ou fora dela, é imprescindível corpos físicos e seus respectivos órgãos de manifestação ainda grosseiros, pois nossa mente não saberia organizar pensamentos de forma equilibrada e disciplinada fora desta condição.

Em sua trajetória evolutiva, penso que o espírito necessita aprender, reaprender e fixar os valores referentes às conquistas também no campo da comunicação. Isso porque, se tal qual os espíritos evoluídos, iremos nos relacionar com outros espíritos de maneira natural pensamento a pensamento, sem necessidade alguma da intermediação de órgãos físicos, haveremos de, por longos séculos e várias encarnações, envidar esforços com grandes sacrifícios para a conquista desta faculdade.

No capítulo sete denominado Quadro doloroso, no livro Libertação, destacamos um caso apresentado por André Luiz, para ilustrar nossas reflexões e estudos sobre os ovóides. Por razões óbvias, transcrevo o caso de forma bem resumida, recomendando aos leitores à consulta na obra original.

André Luiz informa: “Descemos alguns metros e encontramos esquálida mulher estendida no solo. Percebi que a infeliz se cercava de três formas ovóides, diferençadas entre si nas disposições e nas cores, que me seriam, porém, imperceptíveis aos olhos, caso não desenvolvesse, ali, todo o meu potencial de atenção.

– Reparo, sim – expliquei, curioso –, a existência de três figuras vivas, que se lhe justapõem ao perispírito, apesar de se expressarem por intermédio de matéria que me parece leve gelatina, fluida e amorfa”.

Note que André Luiz precisou refinar sua capacidade de visualização para melhor observar os três seres ovoides, em razão da diferença de densidade material destas criaturas, a perturbar infeliz mulher no mundo espiritual.  

Gúbio aduziu: “São entidades infortunadas, entregues aos propósitos de vingança e que perderam grandes patrimônios de tempo, em virtude da revolta que lhes atormenta o ser. Gastaram o perispírito, sob inenarráveis tormentas de desesperação, e imantam-se, naturalmente, à mulher que odeiam...”

O caso, envolvendo uma mulher tirânica, senhora de escravos que desposou um homem, o qual, anteriormente, se relacionara com escrava da fazenda. Deste relacionamento indébito, dois filhos foram gerados. Tomada por sentimentos de triste vingança a dona da fazenda vendeu a escrava, que encontrou a morte pela febre maligna.

Os dois filhos, agora órfãos, padeceram vexames e flagelações e caíram minados pela tuberculose que ninguém socorreu. Desencarnados, mãe e filhos, formaram um trio que manteve profunda revolta com propósito de vingança àquela que lhes causara humilhação e morte. Sem qualquer sentimento de piedade impuseram-lhe destrutivo remorso ao espírito. Dominando-lhe a vida psíquica, transformaram-se para ela em perigosos carrascos invisíveis. Nesta altura da vida física, adoeceu gravemente e embora socorrida pelos recursos disponíveis, deixou o corpo físico a pouco e pouco.

Ao desencarnar, viu-se perseguida pelas três vítimas de outro tempo, os quais, após perderem a organização perispirítica (ovoidização), aderiram a ela, com os princípios de matéria mental que externavam.

Quantas criaturas encarnadas na Terra, sob terrível desequilíbrio mental, encontram-se martirizadas por entidades espirituais desencarnadas que lhes foram vítimas, inocentes ou não, a lhes imporem moléstias na alma que superficializam-se no corpo físico sem diagnóstico conhecido pela medicina humana, podendo conduzir até a perda da vida física. Esta simbiose patológica, claramente pode persistir após a morte na esfera extra-física, querendo nos alertar que o fenômeno da morte, como diria Chico Xavier, trata-se de mudança completa de casa, sem mudança essencial da pessoa.  

Assim estamos todos nós caros leitores, quando não atentamos para os ditames da Lei Divina: de um lado o ódio profundo provocando em três almas a perda da forma física perispiritual, irmãos enfermos que não atenderam ao ensino de Jesus de perdoar a ofensa setenta vezes sete vezes; por outro lado o desequilíbrio originado pelo mal deliberadamente colocado em prática e depois, o remorso consequente, a provar a fatalidade da frase do Cristo que manda ser dado a cada um segundo suas próprias obras.

Tratando da solução para este caso, André Luiz indaga e o amoroso instrutor Gúbio elucida que, somente o tempo aliado às justas regras da reencarnação localizará estas almas sob o mesmo teto, e que, sob a forja do sacrifício serão reconduzidas à estrada certa.

Referência

(1) Luiz, André. Libertação. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 17ª ed. Brasília. Editora FEB, 1995. 263p.


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