segunda-feira, 8 de julho de 2024

                                           Diálogo Produtivo

 

Neste artigo transcrevo um diálogo entre o interlocutor e um espírito desencarnado, através de uma médium, ocorrido durante reunião mediúnica no Grupo Espírita da Fraternidade, casa espírita que frequento desde o ano de 1981. Ao iniciar a participação em reuniões mediúnicas, tenho o hábito de gravá-las para estudos e reflexões posteriores.

O caso em pauta, mostrou-se muito interessante por tratar-se da manifestação de um espírito que, conhecendo sua situação de desencarnado, nutria profunda tristeza e remorso. Julguei oportuna a publicação, pois demonstra as dificuldades de uma alma com pouco entendimento sobre a vida espiritual para resolver sua dolorosa situação. Mas deixemos de dar spoiler, como dizem os jovens hoje em dia, e vamos direto ao assunto, esperando que possamos aproveitar as lições deste produtivo diálogo.

 

- Boa noite seja bem-vinda a nossa reunião.

- Quero ficar bem quietinha aqui – respondeu a irmã desencarnada, com voz quase sumida, sem vontade de muita conversa.

- O que aconteceu, você parece triste.

- Quero ficar quieta aqui – repetiu.

- Que está se passando no seu coração? Tristeza, arrependimento? Talvez possamos ajudar com uma palavra amiga, confortadora – perguntei conhecendo boa parte dos dramas que aturdem os espíritos desencarnados que comparecem às reuniões de enfermagem espiritual.

- Tristeza, remorso, já sentiu remorso?

- Digamos que em grau pequeno já – respondi meio sem graça, sem esperar pela pergunta.

- Dói dói muito. Tem coisa que…não volta atrás, não é?

- Não volta – confirmei.

- A irmã já sabe que desencarnou?

A médium balançou a cabeça afirmativamente como a reforçar a resposta:

- Já faz tempo que isso me aconteceu.

Perguntei, tentando iniciar um diálogo:

- Esse sentimento é resultado da sua última passagem pela Terra? E aí no mundo espiritual você tem procurado assim…- e sem que eu terminasse a pergunta, me cortou dizendo:

- Sim, faço terapia.

- Muito bem. E tem ajudado?

- Muito pouco – respondeu com voz desanimada.

- Mas essas coisas são assim mesmo – tentei ajudar. Conforme a intensidade do sentimento e da carga emocional que você carrega, do que você está sentindo, é como tentar apagar um incêndio com gotas d'água.

- Eu falei com eles que eu ia vir aqui – provavelmente referindo-se aos espíritos desencarnados responsáveis pelos trabalhos daquela noite.

- Hum…

- Eu não sei porque estou falando, se eu disse que não falaria nada.

- Mas sempre ajuda, viu irmã? Você já participou de outras reuniões como está, comunicando-se através de uma médium?

- Não.

- Tem dificuldades? – perguntei para entender.

- Eles me explicaram como eu deveria agir. Aqui, como lhe disse, faço terapia.

- Essa experiência que você está vivendo pela primeira vez, ajuda muito porque agrega ao teu corpo energias que fortalecem. É como se você recebesse, vamos dizer assim, uma transfusão de sangue. A pessoa que está precisando de uma doação de sangue geralmente se encontra enfraquecida, mas depois fica revigorada e fortalecida. Sangue representa vida. - E é justamente esse, o objetivo desta reunião – expliquei - que a irmã possa se fortalecer e melhorar. Você tem consciência que precisa seguir adiante, correto?

- Mais do que saber, eu preciso – respondeu após breve silêncio.

- Exatamente, precisa. Muito bem colocado.

- Eu não sei como me livrar dessas….

- Reminiscências? – completei tentando ajudar.

- Isso…

- Você já conversou com o seu terapeuta sobre a possibilidade da reencarnação? Porque a reencarnação de certa forma é um,,,- quando ia concluir o pensamento, ela afirmou:

- Sim…mas não é tão simples. Porque as situações, não sei bem como posso lhe explicar. As pendências ainda são muito fortes para pensar na reencarnação. Por isso que é difícil. Eu estou aqui desse lado e já tive meu momento na Terra e não aproveitei, aliás, acabei me complicando. E é isso que me dói muito. E essa nova oportunidade pode levar muito tempo, muito tempo.

 

Neste momento pensei em perguntar ao espírito qual foi, na Terra, a razão deste sofrimento, mas preferi, seguindo uma espécie de intuição, não entrar neste detalhe que deve ter sido muito dolorido. Entretanto ficava muito claro o sofrimento do espírito por desperdiçar a oportunidade da vida física.

 

- Me diga, aqui na Terra qual era sua profissão? Você se recorda? – perguntei tentando dar outro rumo ao diálogo.

- Eu fui costureira.

- Ah sim. E por que você não tenta costurar um pouco desse outro lado? Você já tentou?

- Parece que eu estou numa bolha isolada de…- o espírito não conseguiu concluir este pensamento e seguiu dizendo:

- Não consigo me desvencilhar disso.

- Ainda não reúne forças suficiente para tanto – ajuntei concordando.

- Está muito forte dentro de mim…latente.

- Importante é que você tem consciência disso tudo – respondi com a intenção de fortalecer o espírito comunicante.

- Sim é verdade.

- E nós respeitamos muito o seu sofrimento. Ainda assim, procuramos trazer palavras confortadoras, novas ideias, para que a irmã possa melhorar

- É - respondeu em monossílabo.

- Mas é importante, e eu vou repetir que você já tem consciência. Creio também que você já saiba o caminho que necessita seguir. Talvez esteja faltando reunir um desejo mais ardente, talvez coragem, força para tentar romper essa bolha.

- Isso. Eu estou vivendo, neste momento, no hiper foco. Já me esclareceram aqui.

- Hiper foco – repeti tentando entender.

- E eu não consigo me desfocar disso, sabe?

- E de certo forma, isso ocupa a sua mente cem por cento – ajuntei aproveitando o encaminhamento do diálogo que tentava manter com esta irmã, em estado de profunda tristeza.

- Exato, ocupa totalmente a minha mente, cem por cento.

- Entendo.

- Preciso de achar um jeito.

Procurando conduzir o diálogo para tentar auxiliá-la, perguntei:

- Quando você estava encarnada você gostava de criança?

- Sim – respondeu sem entender o objetivo da pergunta.

- Por que você não procura trabalhar com crianças aí deste outro lado? Porque eu entendo que, trabalhar com crianças é uma reconstrução para aquele que trabalha, não é verdade?

- Eu sei, mas a minha tristeza é tão grande que me parece que eu não sou bem-vinda nos lugares que eu vou.

- Entendo perfeitamente o que você está dizendo. Nos lugares que você frequenta, você comparece carregada com a aura negativa e as pessoas que estão ao seu redor, sentem. Esta situação se potencializa considerando a manifestação e a percepção dos sentimentos que são muito mais evidentes quando estamos desencarnados.

- É isso mesmo que ocorre, e as crianças são muito sensíveis.

- Entendi.

- E eu não gostaria de prejudicá-las com esta minha tristeza.

- Você me desculpe tocar neste assunto, porque eu mesmo, ainda encarnado, trabalhei sempre com criança e sinto que lidar com elas renova-nos, trazendo sempre muitas alegrias, entendeu?

- Sim, mas não se preocupe. É porque eu chego num lugar e parece que as pessoas se afastam de mim, sabe. É assim.

- Tem orado? Consegue orar?

- Sim, tenho orado.

- É minha irmã, me parece que seu caso, claro, não pretendendo fazer um diagnóstico, até porque os irmãos que estão lidando com você, os terapeutas, possuem maiores condições e são melhores preparados do que eu, além de possuírem muito mais informações para conduzir seu tratamento. Mas a questão me parece que somente o tempo poderá remediar. Somente o tempo poderá lhe ajudar.

- É o tempo, os irmãos aqui me dizem que vai passar. Se esforce, eles sempre reforçam para mim.

- Procure – afirmei ajuntando algumas sugestões - quando estiver um dia bonito de sol, sair um pouco e tentar encontrar nas pequenas coisas uma nova motivação, novas alegrias.

- Sim

- A beleza e aas cores de uma flor, observar uma mãe com uma criança ou uma gestante, que representam renovação de vida, coisas assim, entendeu? Por outro lado, é importante você ter em mente que o trabalho será fundamental para sua recuperação. Há um autor espiritual, que foi médico psiquiatra quando encarnado e continua a sê-lo como espírito desencarnado, chamado Dr. Inácio Ferreira, que tem uma colocação interessante a este respeito. Em seus livros, que nos envia por via mediúnica, ele se refere a vassoura. Afirma que a vassoura é um instrumento valoroso na recuperação e no auxílio e reabilitação de espíritos com certos desequilíbrios mentais e desânimos como no seu caso. Importante se ocupar, ocupar a mente. Varrer é uma coisa muito simples, mas que é muito importante, pois quando termina seu trabalho, você obtém um local limpo e isso tem o seu valor.

Após me ouvir sobre a “vassoura terapia” com a voz mais animada ajuntou:

- Sabe que nas clínicas onde recebo atendimento, há um pátio muito grande e tem muitas árvores. Faz muita sujeira

Nessa hora, ri-me percebendo que ela estava entendendo o recado.

- Eu vejo sempre algumas senhoras varrendo este pátio.

- E essas senhoras são internas da Clínica, como você?

- São sim, e agora pretendo me candidatar.

- Ótimo, de repente você conhece alguma delas e quem sabe elas possuam histórias, algum caso para relatar e desta forma, uma pode ajudar a outra. Porque o que você menos deve fazer é se isolar e nessa hora de tristeza profunda, é o que mais desejamos fazer, procurar se isolar.

- Hoje eu sei que eu vim a esta reunião porque faz parte do meu tratamento. Entretanto, as pessoas querem saber por que estou aqui, por que estou deste jeito. E nessa hora o isolamento me poupa de ficar dizendo coisas sobre mim, que não quero dizer. Nem sempre eu gosto de fazer isso. Principalmente tendo errado como errei.

- Eu te entendo e sobre um certo aspecto, lhe dou razão. Mas por outro lado, cedo ou tarde isso será necessário, não é verdade? Perguntei para tentar ajudar ela a despertar. Após pequeno silencio, continuei:

- É natural que as pessoas que estão ao seu redor queriam saber, mas você se poupar de alguns irmãos muito curiosos, é uma boa medida.

- Mas o bom é que a vassoura não irá me perguntar nada – disse ela, entendendo o espírito da coisa e rimos juntos.

- Eu tenho certeza que o uso dela vai ser para você uma abertura para novas situações terapêuticas. Embora você esteja nessa situação de tristeza, fiquei muito feliz deste diálogo com você.

- E para você ver, eu vim até aqui para não conversar - falou brincando.

 

- Gostei e se houver oportunidade futura eu voltarei. E quem sabe eu posso trazer alguma notícia para você sobre a vassoura.

- Será muito bom. Que você possa continuar sendo amparada pelas forças invisíveis do universo. O amor de Deus, que a ninguém abandona, possa nutrir o seu coração e a sua alma. Você é uma filha de Deus muito querida para o coração Dele e ele deseja trazê-la para o regaço Dele para que você resplandeça a luz que habita no seu íntimo, fazer brilhar a vossa luz. Se erramos, e é natural porque todos nós erramos um dia e ainda vamos errar muito, é natural que nós nos recolhamos desta forma. Deus, o pai amoroso, entende isso.

- Eu me esforçarei tenho certeza disso, eu me esforçarei para esta melhora – com voz mais animada falou.

 

- Que Jesus lhe ampare e procure forças também na oração porque você deve saber que depois do Amor Divino a maior força do universo está no poder da oração. Primeiro é o amor Divino, em segundo a oração sincera proferida do fundo do coração.

- E eu nunca dei muita importância a isso.

- São forças que moram dentro de nós, expliquei, e quando postas em ação, movimentam outras forças que nem imaginamos. Tenha certeza que essas duas forças irão lhe ajudar

Um pequeno silêncio e o espírito perguntou:

- Como que você ora?

- Eu? – respondi, sem esperar esta pergunta.

- Pra mim orar significa fazer um Pai nosso ou uma Ave Maria.

- Você pode conversar com Deus. Afinal é o que a oração, em sua essência, significa. A criatura voltando-se para o Criador em pensamento elevado.

- Mas eu acho que Deus está tão distante – disse ela decepcionada.

- Sabe quem está ao seu lado? – perguntei, já com a ideia organizada, a ser apresentada para o espírito.

- Não

- Vou tentar explicar melhor: saiba que eu não consigo enxergar você, como espírito desencarnado. Eu não consigo lhe enxergar porque você está em outra dimensão, correto? E eu não possuo a faculdade de vidência para ver espíritos desencarnados.

- Vamos lá, tentarei esclarecer: na dimensão em que você está, há outros espíritos desencarnados que estão ao seu lado e que, como eu, você também não pode enxergá-los.

É como se fosse uma escada, uma hierarquia, entendeu? Eu não lhe enxergo…

- Porque você está encarnado na terra - adiantou-se o espírito.

- E você - afirmei -  já não possui o corpo físico. E há outros irmãos que não possuem o corpo que você tem, eles já subiram na hierarquia, evoluíram.

- São bons? - perguntou-me.

- São muito bons, respondi. São eles que levam as nossas mensagens, os nossos pedidos até Deus.

- São anjos?

- Quase. Cada um de nós tem um amigo espiritual para nos auxiliar.  Só que eles aguardam, eles não costumam agir assim diretamente, aguardam as nossas iniciativas. Aguardam que nós estendamos a mão às dele que sempre se encontram, em nossa direção, estendidas.

 

 

- Veja uma coisa, porque para mim Deus está muito distante. Eu feri muito as Leis de Deus. Eu sei que não fui uma boa filha pra Deus. Então fica muito difícil ter uma conversa com Deus, você me entende? Mas se eu tenho um espírito amigo, um colaborador, eu posso falar e ele poderá me auxiliar.

- Sim, sim, o que eles mais gostam é de servir.

- E ele ouve tudo que eu disser?

Claro, e digo mais. A partir do instante que você conseguir melhorar um pouco seus pensamentos, seu panorama mental você perceberá uma surpresa.

- Qual? - ela perguntou curiosa pela resposta.

- Você irá falar com ele e também irá escutar. Por hora é necessário que consiga melhorar seus pensamentos. É como se nossa mente estivesse mergulhada num poço de lama, e nós tivéssemos que mudar esta situação para uma jarra repleta de água cristalina.

E a partir daí você não somente irá falar, mas também conseguirá escutar. Será você falando, Deus escutando e enviando a sua resposta através desse irmão.

- Deus seja louvado, coisa boa. Eu nem tenho palavras para agradecer o quanto esse diálogo me ajudou.

- Nós é que ficamos felizes porque percebemos que você irá sair desta reunião, melhor do que quando chegou.

- Que bom, ter alguém para conversar e que não irá especular sobre minha vida.

- Interessante isso que você disse e sabe porque ele não irá especular? Porque ele conhece tudo pelo que você passou e sofreu. Ele sendo bom, é também muito humilde e respeita profundamente a sua dor e irá ajuda-la sugerindo uma nova trajetória.

- Muito obrigada.

- Respire fundo e sinta-se uma filha de Deus e que este irmão ao seu lado representará a extensão de Deus próximo a você.

- Muito obrigado por estes momentos.

- Nós e que agradecemos. Que Deus lhe ampare e abençoe e que esses fluídos que você recebeu estando em contato com a médium, sejam reparadores e possam lhe beneficiar principalmente nas suas questões mentais dando novo ânimo para seguir adiante. Siga em paz e boa noite.

Um comentário:

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