Diálogo Produtivo
Neste artigo
transcrevo um diálogo entre o interlocutor e um espírito desencarnado, através
de uma médium, ocorrido durante reunião mediúnica no Grupo Espírita da
Fraternidade, casa espírita que frequento desde o ano de 1981. Ao iniciar a
participação em reuniões mediúnicas, tenho o hábito de gravá-las para estudos e
reflexões posteriores.
O caso em
pauta, mostrou-se muito interessante por tratar-se da manifestação de um
espírito que, conhecendo sua situação de desencarnado, nutria profunda tristeza
e remorso. Julguei oportuna a publicação, pois demonstra as dificuldades de uma
alma com pouco entendimento sobre a vida espiritual para resolver sua dolorosa
situação. Mas deixemos de dar spoiler, como dizem os jovens hoje em dia, e
vamos direto ao assunto, esperando que possamos aproveitar as lições deste
produtivo diálogo.
- Boa noite
seja bem-vinda a nossa reunião.
- Quero ficar
bem quietinha aqui – respondeu a irmã desencarnada, com voz quase sumida, sem
vontade de muita conversa.
- O que
aconteceu, você parece triste.
- Quero ficar
quieta aqui – repetiu.
- Que está se
passando no seu coração? Tristeza, arrependimento? Talvez possamos ajudar com uma
palavra amiga, confortadora – perguntei conhecendo boa parte dos dramas que
aturdem os espíritos desencarnados que comparecem às reuniões de enfermagem
espiritual.
- Tristeza,
remorso, já sentiu remorso?
- Digamos que
em grau pequeno já – respondi meio sem graça, sem esperar pela pergunta.
- Dói dói
muito. Tem coisa que…não volta atrás, não é?
- Não volta –
confirmei.
- A irmã já
sabe que desencarnou?
A médium balançou
a cabeça afirmativamente como a reforçar a resposta:
- Já faz
tempo que isso me aconteceu.
Perguntei,
tentando iniciar um diálogo:
- Esse
sentimento é resultado da sua última passagem pela Terra? E aí no mundo espiritual
você tem procurado assim…- e sem que eu terminasse a pergunta, me cortou
dizendo:
- Sim, faço
terapia.
- Muito bem. E
tem ajudado?
- Muito pouco
– respondeu com voz desanimada.
- Mas essas
coisas são assim mesmo – tentei ajudar. Conforme a intensidade do sentimento e
da carga emocional que você carrega, do que você está sentindo, é como tentar apagar
um incêndio com gotas d'água.
- Eu falei
com eles que eu ia vir aqui – provavelmente referindo-se aos espíritos desencarnados
responsáveis pelos trabalhos daquela noite.
- Hum…
- Eu não sei
porque estou falando, se eu disse que não falaria nada.
- Mas sempre
ajuda, viu irmã? Você já participou de outras reuniões como está,
comunicando-se através de uma médium?
- Não.
- Tem dificuldades?
– perguntei para entender.
- Eles me
explicaram como eu deveria agir. Aqui, como lhe disse, faço terapia.
- Essa
experiência que você está vivendo pela primeira vez, ajuda muito porque agrega
ao teu corpo energias que fortalecem. É como se você recebesse, vamos dizer
assim, uma transfusão de sangue. A pessoa que está precisando de uma doação de
sangue geralmente se encontra enfraquecida, mas depois fica revigorada e
fortalecida. Sangue representa vida. - E é justamente esse, o objetivo desta
reunião – expliquei - que a irmã possa se fortalecer e melhorar. Você tem
consciência que precisa seguir adiante, correto?
- Mais do que
saber, eu preciso – respondeu após breve silêncio.
- Exatamente,
precisa. Muito bem colocado.
- Eu não sei
como me livrar dessas….
- Reminiscências?
– completei tentando ajudar.
- Isso…
- Você já
conversou com o seu terapeuta sobre a possibilidade da reencarnação? Porque a
reencarnação de certa forma é um,,,- quando ia concluir o pensamento, ela
afirmou:
- Sim…mas não
é tão simples. Porque as situações, não sei bem como posso lhe explicar. As
pendências ainda são muito fortes para pensar na reencarnação. Por isso que é
difícil. Eu estou aqui desse lado e já tive meu momento na Terra e não
aproveitei, aliás, acabei me complicando. E é isso que me dói muito. E essa
nova oportunidade pode levar muito tempo, muito tempo.
Neste momento
pensei em perguntar ao espírito qual foi, na Terra, a razão deste sofrimento,
mas preferi, seguindo uma espécie de intuição, não entrar neste detalhe que
deve ter sido muito dolorido. Entretanto ficava muito claro o sofrimento do
espírito por desperdiçar a oportunidade da vida física.
- Me diga, aqui
na Terra qual era sua profissão? Você se recorda? – perguntei tentando dar
outro rumo ao diálogo.
- Eu fui costureira.
- Ah sim. E
por que você não tenta costurar um pouco desse outro lado? Você já tentou?
- Parece que
eu estou numa bolha isolada de…- o espírito não conseguiu concluir este
pensamento e seguiu dizendo:
- Não consigo
me desvencilhar disso.
- Ainda não
reúne forças suficiente para tanto – ajuntei concordando.
- Está muito
forte dentro de mim…latente.
- Importante
é que você tem consciência disso tudo – respondi com a intenção de fortalecer o
espírito comunicante.
- Sim é
verdade.
- E nós respeitamos
muito o seu sofrimento. Ainda assim, procuramos trazer palavras confortadoras,
novas ideias, para que a irmã possa melhorar
- É - respondeu
em monossílabo.
- Mas é
importante, e eu vou repetir que você já tem consciência. Creio também que você
já saiba o caminho que necessita seguir. Talvez esteja faltando reunir um
desejo mais ardente, talvez coragem, força para tentar romper essa bolha.
- Isso. Eu
estou vivendo, neste momento, no hiper foco. Já me esclareceram aqui.
- Hiper foco
– repeti tentando entender.
- E eu não
consigo me desfocar disso, sabe?
- E de certo forma,
isso ocupa a sua mente cem por cento – ajuntei aproveitando o encaminhamento do
diálogo que tentava manter com esta irmã, em estado de profunda tristeza.
- Exato, ocupa
totalmente a minha mente, cem por cento.
- Entendo.
- Preciso de
achar um jeito.
Procurando conduzir
o diálogo para tentar auxiliá-la, perguntei:
- Quando você
estava encarnada você gostava de criança?
- Sim –
respondeu sem entender o objetivo da pergunta.
- Por que
você não procura trabalhar com crianças aí deste outro lado? Porque eu entendo
que, trabalhar com crianças é uma reconstrução para aquele que trabalha, não é
verdade?
- Eu sei, mas
a minha tristeza é tão grande que me parece que eu não sou bem-vinda nos
lugares que eu vou.
- Entendo
perfeitamente o que você está dizendo. Nos lugares que você frequenta, você comparece
carregada com a aura negativa e as pessoas que estão ao seu redor, sentem. Esta
situação se potencializa considerando a manifestação e a percepção dos
sentimentos que são muito mais evidentes quando estamos desencarnados.
- É isso
mesmo que ocorre, e as crianças são muito sensíveis.
- Entendi.
- E eu não
gostaria de prejudicá-las com esta minha tristeza.
- Você me
desculpe tocar neste assunto, porque eu mesmo, ainda encarnado, trabalhei
sempre com criança e sinto que lidar com elas renova-nos, trazendo sempre
muitas alegrias, entendeu?
- Sim, mas
não se preocupe. É porque eu chego num lugar e parece que as pessoas se afastam
de mim, sabe. É assim.
- Tem orado?
Consegue orar?
- Sim, tenho
orado.
- É minha
irmã, me parece que seu caso, claro, não pretendendo fazer um diagnóstico, até
porque os irmãos que estão lidando com você, os terapeutas, possuem maiores
condições e são melhores preparados do que eu, além de possuírem muito mais
informações para conduzir seu tratamento. Mas a questão me parece que somente o
tempo poderá remediar. Somente o tempo poderá lhe ajudar.
- É o tempo,
os irmãos aqui me dizem que vai passar. Se esforce, eles sempre reforçam para
mim.
- Procure –
afirmei ajuntando algumas sugestões - quando estiver um dia bonito de sol, sair
um pouco e tentar encontrar nas pequenas coisas uma nova motivação, novas
alegrias.
- Sim
- A beleza e
aas cores de uma flor, observar uma mãe com uma criança ou uma gestante, que
representam renovação de vida, coisas assim, entendeu? Por outro lado, é
importante você ter em mente que o trabalho será fundamental para sua
recuperação. Há um autor espiritual, que foi médico psiquiatra quando encarnado
e continua a sê-lo como espírito desencarnado, chamado Dr. Inácio Ferreira, que
tem uma colocação interessante a este respeito. Em seus livros, que nos envia
por via mediúnica, ele se refere a vassoura. Afirma que a vassoura é um
instrumento valoroso na recuperação e no auxílio e reabilitação de espíritos
com certos desequilíbrios mentais e desânimos como no seu caso. Importante se
ocupar, ocupar a mente. Varrer é uma coisa muito simples, mas que é muito
importante, pois quando termina seu trabalho, você obtém um local limpo e isso
tem o seu valor.
Após me ouvir
sobre a “vassoura terapia” com a voz mais animada ajuntou:
- Sabe que
nas clínicas onde recebo atendimento, há um pátio muito grande e tem muitas
árvores. Faz muita sujeira
Nessa hora,
ri-me percebendo que ela estava entendendo o recado.
- Eu vejo sempre
algumas senhoras varrendo este pátio.
- E essas
senhoras são internas da Clínica, como você?
- São sim, e
agora pretendo me candidatar.
- Ótimo, de
repente você conhece alguma delas e quem sabe elas possuam histórias, algum
caso para relatar e desta forma, uma pode ajudar a outra. Porque o que você
menos deve fazer é se isolar e nessa hora de tristeza profunda, é o que mais desejamos
fazer, procurar se isolar.
- Hoje eu sei
que eu vim a esta reunião porque faz parte do meu tratamento. Entretanto, as
pessoas querem saber por que estou aqui, por que estou deste jeito. E nessa
hora o isolamento me poupa de ficar dizendo coisas sobre mim, que não quero
dizer. Nem sempre eu gosto de fazer isso. Principalmente tendo errado como
errei.
- Eu te
entendo e sobre um certo aspecto, lhe dou razão. Mas por outro lado, cedo ou
tarde isso será necessário, não é verdade? Perguntei para tentar ajudar ela a despertar.
Após pequeno silencio, continuei:
- É natural
que as pessoas que estão ao seu redor queriam saber, mas você se poupar de
alguns irmãos muito curiosos, é uma boa medida.
- Mas o bom é
que a vassoura não irá me perguntar nada – disse ela, entendendo o espírito da
coisa e rimos juntos.
- Eu tenho
certeza que o uso dela vai ser para você uma abertura para novas situações
terapêuticas. Embora você esteja nessa situação de tristeza, fiquei muito feliz
deste diálogo com você.
- E para você
ver, eu vim até aqui para não conversar - falou brincando.
- Gostei e se
houver oportunidade futura eu voltarei. E quem sabe eu posso trazer alguma
notícia para você sobre a vassoura.
- Será muito
bom. Que você possa continuar sendo amparada pelas forças invisíveis do
universo. O amor de Deus, que a ninguém abandona, possa nutrir o seu coração e
a sua alma. Você é uma filha de Deus muito querida para o coração Dele e ele
deseja trazê-la para o regaço Dele para que você resplandeça a luz que habita
no seu íntimo, fazer brilhar a vossa luz. Se erramos, e é natural porque todos
nós erramos um dia e ainda vamos errar muito, é natural que nós nos recolhamos desta
forma. Deus, o pai amoroso, entende isso.
- Eu me
esforçarei tenho certeza disso, eu me esforçarei para esta melhora – com voz
mais animada falou.
- Que Jesus lhe
ampare e procure forças também na oração porque você deve saber que depois do
Amor Divino a maior força do universo está no poder da oração. Primeiro é o
amor Divino, em segundo a oração sincera proferida do fundo do coração.
- E eu nunca
dei muita importância a isso.
- São forças
que moram dentro de nós, expliquei, e quando postas em ação, movimentam outras
forças que nem imaginamos. Tenha certeza que essas duas forças irão lhe ajudar
Um pequeno
silêncio e o espírito perguntou:
- Como que você
ora?
- Eu? – respondi,
sem esperar esta pergunta.
- Pra mim orar
significa fazer um Pai nosso ou uma Ave Maria.
- Você pode
conversar com Deus. Afinal é o que a oração, em sua essência, significa. A
criatura voltando-se para o Criador em pensamento elevado.
- Mas eu acho
que Deus está tão distante – disse ela decepcionada.
- Sabe quem
está ao seu lado? – perguntei, já com a ideia organizada, a ser apresentada
para o espírito.
- Não
- Vou tentar
explicar melhor: saiba que eu não consigo enxergar você, como espírito
desencarnado. Eu não consigo lhe enxergar porque você está em outra dimensão,
correto? E eu não possuo a faculdade de vidência para ver espíritos desencarnados.
- Vamos lá,
tentarei esclarecer: na dimensão em que você está, há outros espíritos
desencarnados que estão ao seu lado e que, como eu, você também não pode
enxergá-los.
É como se
fosse uma escada, uma hierarquia, entendeu? Eu não lhe enxergo…
- Porque você
está encarnado na terra - adiantou-se o espírito.
- E você -
afirmei - já não possui o corpo físico.
E há outros irmãos que não possuem o corpo que você tem, eles já subiram na
hierarquia, evoluíram.
- São bons? -
perguntou-me.
- São muito
bons, respondi. São eles que levam as nossas mensagens, os nossos pedidos até
Deus.
- São anjos?
- Quase. Cada
um de nós tem um amigo espiritual para nos auxiliar. Só que eles aguardam, eles não costumam agir
assim diretamente, aguardam as nossas iniciativas. Aguardam que nós estendamos
a mão às dele que sempre se encontram, em nossa direção, estendidas.
- Veja uma
coisa, porque para mim Deus está muito distante. Eu feri muito as Leis de Deus.
Eu sei que não fui uma boa filha pra Deus. Então fica muito difícil ter uma
conversa com Deus, você me entende? Mas se eu tenho um espírito amigo, um
colaborador, eu posso falar e ele poderá me auxiliar.
- Sim, sim, o
que eles mais gostam é de servir.
- E ele ouve
tudo que eu disser?
Claro, e digo
mais. A partir do instante que você conseguir melhorar um pouco seus
pensamentos, seu panorama mental você perceberá uma surpresa.
- Qual? - ela
perguntou curiosa pela resposta.
- Você irá
falar com ele e também irá escutar. Por hora é necessário que consiga melhorar
seus pensamentos. É como se nossa mente estivesse mergulhada num poço de lama,
e nós tivéssemos que mudar esta situação para uma jarra repleta de água
cristalina.
E a partir
daí você não somente irá falar, mas também conseguirá escutar. Será você
falando, Deus escutando e enviando a sua resposta através desse irmão.
- Deus seja
louvado, coisa boa. Eu nem tenho palavras para agradecer o quanto esse diálogo
me ajudou.
- Nós é que ficamos
felizes porque percebemos que você irá sair desta reunião, melhor do que quando
chegou.
- Que bom,
ter alguém para conversar e que não irá especular sobre minha vida.
- Interessante
isso que você disse e sabe porque ele não irá especular? Porque ele conhece tudo
pelo que você passou e sofreu. Ele sendo bom, é também muito humilde e respeita
profundamente a sua dor e irá ajuda-la sugerindo uma nova trajetória.
- Muito
obrigada.
- Respire
fundo e sinta-se uma filha de Deus e que este irmão ao seu lado representará a
extensão de Deus próximo a você.
- Muito
obrigado por estes momentos.
- Nós e que
agradecemos. Que Deus lhe ampare e abençoe e que esses fluídos que você recebeu
estando em contato com a médium, sejam reparadores e possam lhe beneficiar
principalmente nas suas questões mentais dando novo ânimo para seguir adiante.
Siga em paz e boa noite.
Reconfortante
ResponderExcluir