segunda-feira, 29 de julho de 2024

 

Olhos de ver, ouvidos de ouvir.

“Porque vendo, eles não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem”. Neles se cumpre a profecia de Isaías: Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão”.         Jesus

Em todos os tempos, desde o aparecimento do homem sobre a Terra, os fenômenos físicos existiram acenando-nos para a posteridade das possibilidades humanas no contato com o além e de seu aperfeiçoamento.

Moisés, o grande legislador hebreu, médium de muitas faculdades, produziu, com o auxílio dos espíritos, expressivos fenômenos físicos.

Em Roma, Nero e Calígula foram protagonistas destes fenômenos, assistidos por espíritos imperfeitos, mostrando-nos que a ocorrência dos mesmos independe da maior ou menor evolução da criatura humana.

Todavia, foi com a encarnação de Jesus na Terra que estes fenômenos, atingiram culminâncias, sendo considerado o Medianeiro da Divina Sabedoria.

As aparições dos emissários divinos para Maria, Isabel, José e Zacarias envolvendo a anunciação de Jesus e João Batista.

Os fenômenos de cura restituindo a visão aos cegos, movimentos aos paralíticos e saúde física aos enfermos graves foram múltiplos. A transfiguração no Tabor, a levitação sobre as águas dentre outros que foram registrados pelos evangelistas e que chegaram até nossos dias. Mas muitos outros devem ter ocorridos sem a presença de alguém que os tornassem conhecidos à posteridade.

Ainda o dia de Pentecostes em um evento mediúnico portentoso, somente visto em paralelo, com o fenômeno das mesas girantes que abriram os trabalhos que, mais tarde, pela observação predestinada de Allan Kardec, traria-nos as luzes da Doutrina Espírita.

Por esta razão, o século 19 foi rico em médiuns de efeitos físicos e de ectoplasmia, para despertar-nos a atenção para uma nova era.   

Em suas mais diversas formas de manifestação, os fenômenos físicos sempre e ainda hoje, maravilharam os olhos e os órgãos da percepção humana, mas jamais serão motivo de transformar mentes deslumbradas em corações realmente despertos aptos para o crescimento espiritual.

Aliás, como afirma nossa irmã desencarnada Ana Prado, que fora médium de materialização, em significativa página do livro Instruções Psicofônicas:

“Colaborei na materialização de companheiros desencarnados, na transmissão de vozes do Além, na escrita direta e na produção de outros fenômenos, destinados a formar robustas convicções, em torno da sobrevivência do ser, além da morte, no entanto, ao redor da fonte de bênçãos que fluía, incessante, junto de nossos corações deslumbrados, não cheguei a ver o despertar do sentimento para o Cristo, único processo capaz de assegurar à nossa redentora Doutrina o triunfo que ela merece na regeneração de nós mesmos. No quadro dos valores psíquicos, a mediunidade de efeitos físicos é aquela que oferece maior perigo pela facilidade com que favorece a ilusão a nosso próprio respeito”. 

A esse respeito Emmanuel na questão 218 do livro O Consolador esclarece que: Os fenômenos acordam o espírito adormecido na carne, mas não fornecem as luzes interiores, somente conseguidas à custa de grande esforço e trabalho individual. (grifo nosso) A palavra dos guias e mentores do Além ensina, mas não pode constituir elementos definitivos de redenção, cuja obra exige de cada um sacrifício e renúncias santificantes, no laborioso aprendizado da vida”.

Muitos adeptos do Espiritismo e mesmo os simpatizantes se afastam das reuniões e arrefecem seu ânimo na caridade, quando as mesmas não apresentam fenômenos sensíveis aos órgãos humanos da percepção.

Agindo assim, demonstram plena inabilitação para o verdadeiro trabalho do Espiritismo sincero.

Preferem as emoções transitórias ao serviço de auto-iluminação, ainda não estão devidamente preparados para assumirem qualquer compromisso mais sérios na Doutrina e principalmente, consigo mesmos dentro do processo natural que um dia haverá de envolver a todos.

Assim, entendemos que se é necessário desenvolver a nossa capacidade de sentir os estímulos da vida física, aqueles que afetam nossos nervos, é essencial refinar os sentidos que transcendem estas percepções, vendo e ouvindo o que nem os olhos e ouvidos podem captar. 

Referencias:

(1) Emmanuel. O Consolador. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 11ª ed. Brasília. Editora FEB, 1985. 233p. 

(1) Espiritos diversos (organizado por Arnaldo Rocha). Instruções Psicofônicas. Francisco Cândido Xavier. 6ª ed. Brasília. Editora FEB, 1991. 289p. 

segunda-feira, 22 de julho de 2024

 

Sempre merecemos.

“Todos os seres irmanam-se, uns aos outros, no plano gigantesco da perfeição que nos escapa, por agora, em sua visão magnificente de conjunto, e, para escalarmos os domínios da felicidade e da luz, é imprescindível atender à função que nos compete, no mecanismo da existência”.                                                                               Emmanuel

Muito difícil entender e principalmente aceitar determinadas situações, às quais, em uma análise superficial, nos passariam como tremendas injustiças perpetradas pelo destino em direção às criaturas na Terra.

Por que certas pessoas atravessam momentos de grande dificuldade na existência, enquanto outras não experimentam semelhantes dificuldades no campo do sofrimento, especialmente quando nos referimos aos problemas de saúde ou às questões familiares de toda ordem?

Refletir sobre o merecimento nestas ocorrências pode ser acertado, desde que, nos disponhamos a raciocinar sobre a base que nos oferece a Doutrina Espírita. Fora dela, é aceitar que Deus joga dados com nossas possibilidades.

Somos espíritos imortais detentores de infinitas potencialidades que, gradualmente serão desenvolvidas de dentro para fora, em inúmeras existências nas muitas moradas da casa do Pai. Partir desta premissa para compreender, é fundamental.

Presentemente, como espíritos ainda no início de nossa jornada evolutiva, temos experimentado muitas coisas no processo de desenvolvimento, porém como criança nos primeiros passos de seu crescimento, muito mais erramos e caímos do que acertamos. Trata-se de um processo natural.

Portanto, todos carregamos o fardo de antigos débitos, que pela misericórdia divina, a luz das experiências bem vividas clareia a sombra das imperfeições em nós.

Compreender que passar por etapas difíceis com sofrimento, pode ser visto sob a ótica do merecimento de cada um. Merecer viver o que é superior e ser feliz, assim também, merecer sofrer e encarar dificuldades para reparar e reconciliar, tem o mesmo sentido de direção. Essa noção auxilia-nos a melhor entender a frase contida no capítulo IX do Evangelho Segundo o Espiritismo, em que um espírito amigo começando a discorrer sobre a paciência, afirma que “ a dor é uma benção que Deus envia a seus eleitos”.

O espírito na sua jornada evolutiva pode então, merecer ser feliz ou infeliz. No primeiro caso, merecer será sinônimo de esforço, de dedicação e de imensa disciplina, enquanto no segundo, é necessário compreender que, onde estivermos, na Terra ou no Além, não estamos entregues a nós mesmos, mas sim, às nossas próprias obras.

Aliás, um dos maiores equívocos que o homem encarnado comete, é pensar que o merecimento decorrerá simplesmente do ato de crer ou da expressão dos conhecimentos que possua, por mais amplos que ambos, fé e conhecimento, representem. 

A lei do merecimento e a caridade não se apartam. Dai e dar-se-vos-á, ensinou Jesus. Para receber graças e benção do Alto, é indispensável dar graças e abençoar. Somente damos do que temos e para ter é necessário obter. E para obter, somente com trabalho edificante que sempre exigirá fidelidade e esforço, aplicação e disciplina.

De fato, sempre mereceremos, em qualquer momento da vida imortal, vivermos para a luz ou para a escuridão; para a saúde ou para a enfermidade; para o amor ou para o ódio; para a felicidade ou para a desdita, em decorrência das obras praticadas.

Estas serão o fiel da balança, sempre.

Para ilustrar devidamente este assunto, transcrevo lição denominada “O Merecimento” do livro A vida escreve, pelo espírito de Hilário Silva, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira.

I

Saturnino Pereira era francamente dos melhores homens. Amoroso mordomo familiar. Companheiro dos humildes. A caridade em pessoa. Onde houvesse dor a consolar, aí estava de plantão. Não só isso. No trabalho, era o amigo fiel do horário e do otimismo. Nas maiores dificuldades, era um sorriso generoso, parecendo raio de sol dissipando as sombras.

Por isso mesmo, quando foi visto de mão a sangrar, junto à máquina de que era condutor, todas as atenções se voltaram para ele, entre o pasmo e a amargura.

Saturnino ferido! Logo Saturnino, o amigo de todos…

Suas colegas de fábrica rasgaram peças de roupa, a fim de estancar o sangue a correr em bica.

O chefe da tecelagem, solícito, conduziu-o ao automóvel, internando-o de pronto em magnífico hospital.

Operação feliz. O cirurgião informou, sorrindo:

— Felizmente, nosso amigo perderá simplesmente o polegar. Todo o braço direito está ferido, traumatizado, mas será reconstituído em tempo breve.

Longe desse quadro, porém, o caso merecia apontamentos diversos:

— Por que um desastre desses com um homem tão bom? — Murmurava uma companheira.

— Tenho visto tantas mãos criminosas saírem ilesas, até mesmo de aviões projetados ao solo, e justamente Saturnino, que nos ajuda a todos, vem de ser a vítima! — Comentava um amigo.

— Devemos ajudar Saturnino.

— Cotizemo-nos todos para ajudá-lo.

Mas também não faltou quem dissesse:

— Que adianta a religião, tão bem observada? Saturnino é espírita convicto e leva a sério o seu ideal. Vive para os outros. Na caridade é um herói anônimo. Por que o infausto acontecimento? — Expressava-se um colega materialista.

E à tarde, quando o acidentado apareceu muito pálido, com o braço direito em tipoia, carinho e respeito rodearam-no por todos os lados.

Saturnino agradeceu a generosidade de que fora objeto. Sorriu, resignado. Proferiu palavras de agradecimento a Deus. Contudo, estava triste.

II


À noite, em companhia da esposa, compareceu à reunião habitual do templo espírita que frequentava.

Sessão íntima.

Apenas dez pessoas habituadas ao trato com os sofredores. Consagrado ao serviço da prece, o operário, em sua cadeira humilde, esperava o encerramento, quando Macário, o orientador espiritual das tarefas, após traçar diretrizes, dirigiu-se a ele, bondoso:

— Saturnino, meu filho, não se creia desamparado, nem se entregue a tristeza inútil. O Pai não deseja o sofrimento dos filhos. Todas as dores decretadas pela Justiça Divina são aliviadas pela Divina Misericórdia, toda vez que nos apresentamos em condições para o desagravo. Você hoje demonstra indiscutível abatimento. Entretanto, não tem motivo. Quando você se preparava ao mergulho no berço terrestre, programou a excursão presente. Excursão de trabalho, de reajuste. Acontece, porém, que formulou uma sentença contra você mesmo…

Fez uma pausa e prosseguiu:

— Há oitenta anos, era você poderoso sitiante no litoral brasileiro e, certo dia, porque pobre empregado enfermo não lhe pudesse obedecer às determinações, você, com as próprias mãos, obrigou-o a triturar o braço direito no engenho rústico. Por muito tempo, no Plano Espiritual, você andou perturbado, contemplando mentalmente o caldo de cana enrubescido pelo sangue da vítima, cujos gritos lhe ecoavam no coração. Por muito tempo, por muito tempo…

E continuou:

— E você implorou existência humilde em que viesse a perder no trabalho o braço mais útil. Mas, você, Saturnino, desde a primeira mocidade, ao conhecer a Doutrina Espírita, tem os pés no caminho do bem aos outros. Você tem trabalhado, esmerando-se no dever… Não estamos aqui para elogiar, porque você continua lutando, lutando… e o plantio disso ou daquilo só pode ser avaliado em definitivo por ocasião da colheita. Sei, porém, que hoje, por débito legítimo, alijaria você todo o braço, mas perdeu só um dedo… Regozije-se, meu amigo! Você está pagando, em amor, seu empenho à Justiça…

De cabeça baixa, Saturnino derramava grossas lágrimas.

Lágrimas de conforto, de apaziguamento e alegria…

Na manhã seguinte, mostrando no rosto amorável sorriso, compareceu, pontual, ao serviço.

E porque o fiscal do relógio lhe estranhasse o procedimento, quando o médico o licenciara por trinta dias, respondeu simplesmente:

— O senhor está enganado. Não estou doente. Fui apenas acidentado e posso servir para alguma coisa.

E caminhando, fábrica a dentro, falou alto, como se todos devessem ouvi-lo:

— Graças a Deus!

Referência

(1) Silva, Hilário. A vida escreve. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 6ª ed. Brasília. Editora FEB, 1987. 224p. 

segunda-feira, 15 de julho de 2024

 

Desafio ao médium espírita.

 “Muito dificilmente, dentro do dinamismo que a caracteriza, a terceira Revelação conseguiria avançar, visto que, de modo geral, intimidados pela crítica, os médiuns não ofereciam o campo mental à indispensável semeadura.

Os nossos irmãos desencarnados se esforçam ao máximo, notadamente aqueles que desejam transmitir algo diferente ou novo, dentro os preceitos da doutrina espírita, para nós, espíritos encarnados, com o objetivo de desenvolver em nós mais largos horizontes sobre a vida no mundo espiritual”.


Este texto inicial que encima nosso artigo, esta registrado no livro A Escada de Jacó, psicografado pelo médium Carlos Baccelli, pelo espírito Dr. Inácio Ferreira, em sua primeira edição publicada no ano de 2004. Desde lá, vinte anos transcorreram e podemos afirmar que praticamente, quase nada mudou.

Creio que, a principal razão deste inalterado cenário, seja a falta de interesse e de esforço do próprio médium em estudar, aperfeiçoar-se e se envolver, de maneira definida, em atividades de melhoria de vida para o próximo. Em outras palavras, praticar a caridade. 

Claro que há as exceções de praxe, médiuns que permanecem lutando, tentando vencer suas próprias imperfeições dedicando-se quanto podem para fixar em si os reais valores que, um dia, o farão superar sua própria condição humana.

A época das comunicações espíritas reveladoras, tanto no aspecto científico, filosófico como moral, constituíram-se na fase áurea do Espiritismo na Terra. Surgiram médiuns em condições apropriadas em seu aparato físico, perispiritual e espiritual, oferecendo “campo mental para a indispensável semeadura”.

Primeiro, com Allan Kardec, quando então os espíritos se submetiam às formas mais arcaicas de comunicação mediúnica. Com a evolução da forma de diálogo entre os Dois Planos, com maior uso da psicofonia e da psicografia, encontramos em Chico Xavier, toda a plenitude dos diversos tipos de faculdades mediúnicas.

Neste aspecto, não podemos olvidar e sempre valorizar as dificuldades vivenciadas pelos médiuns que, sob a orientação dos espíritos superiores, prepostos de Jesus sobre a Terra, nos presentearam com a beleza dos ensinos doutrinários.

Entretanto, mesmo como mensageiros de um ensino superior, não se furtaram de submeterem-se a difíceis testemunhos para dar cabo aos compromissos assumidos.

Por exemplo, o que o médium Chico Xavier, não terá enfrentado, em conjunto com os espíritos, que através dele se manifestavam, para cumprir com sua missão extraordinária? Os obstáculos que enfrentou, os quais muitas vezes ficaram registrados em obras que biografaram sua vida exemplar, devem ser considerados somente como a ponta de um enorme iceberg, cujo tamanho permaneceu ignorado pela maioria, senão por todos nós encarnados.

As lutas e os sofrimentos a que este homem se submeteu para legar-nos sua iluminada obra, é digna de espírito muito superior, os quais pisam sobre a Terra muito esporadicamente para cumprirem um verdadeiro mediunato. São verdadeiros Apóstolos do Cristo, corporificados sobre a Terra, não somente para trazer conhecimentos, mas, sobretudo, para vivenciar os preceitos cristãos que pregam em suas próprias obras escritas. Estes são únicos e verdadeiros.

Atualmente são muito raros estes companheiros de ideal, em condições de sintonizarem espíritos de alto valor espiritual para receberem informações sublimes e valiosas, as quais outrora, compuseram e complementaram os ensinos superiores do Espiritismo na Terra.

Essa é uma importante reflexão para os grupos mediúnicos que se vangloriam por receberem, segundo avaliam, a manifestação corriqueira e frequente, em suas reuniões, de almas sublimes, espíritos que, embora comprometidos com a evolução e implantação do Reino de Deus na Terra, não encontram sintonia sobre nossas mentes, que ainda se alimentam basicamente, de pensamentos ligados ao aspecto material da existência humana. 

Será que os médiuns atuais estão prontos para vivenciarem com todas as letras, o sacrifício da renúncia, da resignação e da discrição?

Resta a nós, médiuns simples e ignorantes que praticamente, conhecemos da mediunidade, na presente encarnação, quase nada além do restrito aspecto de instrumento de manifestação da alma, nos conscientizarmos que precisamos nos esforçar muito mais, para continuarmos a ser dignos da oportunidade que recebemos, como adeptos e trabalhadores na doutrina espírita. Segundo afirma Dr. Odilon Fernandes, espírito desencarnado e respeitável conhecedor da mediunidade, para o médium, a mediunidade, significa sua melhor oportunidade de evoluir na presente encarnação.

Ressalta-se que, para nós, a mediunidade não se apresenta como uma missão, porém uma forma de expiarmos e resgatar nosso montante de dívidas. Dívidas realizadas por atacado devido a erros cometidos em existências pretéritos, e que sob a ação da misericórdia divina, poderão ser pagas em suaves prestações ao longo da nossa atual e futuras existências. 

Referência

(1) Ferreira, Inácio. Escada de Jacó. Psicografado por Carlos A. Baccelli. 1ª ed. Uberaba. Editora LEEPP, 2004. 298p. 


segunda-feira, 8 de julho de 2024

                                           Diálogo Produtivo

 

Neste artigo transcrevo um diálogo entre o interlocutor e um espírito desencarnado, através de uma médium, ocorrido durante reunião mediúnica no Grupo Espírita da Fraternidade, casa espírita que frequento desde o ano de 1981. Ao iniciar a participação em reuniões mediúnicas, tenho o hábito de gravá-las para estudos e reflexões posteriores.

O caso em pauta, mostrou-se muito interessante por tratar-se da manifestação de um espírito que, conhecendo sua situação de desencarnado, nutria profunda tristeza e remorso. Julguei oportuna a publicação, pois demonstra as dificuldades de uma alma com pouco entendimento sobre a vida espiritual para resolver sua dolorosa situação. Mas deixemos de dar spoiler, como dizem os jovens hoje em dia, e vamos direto ao assunto, esperando que possamos aproveitar as lições deste produtivo diálogo.

 

- Boa noite seja bem-vinda a nossa reunião.

- Quero ficar bem quietinha aqui – respondeu a irmã desencarnada, com voz quase sumida, sem vontade de muita conversa.

- O que aconteceu, você parece triste.

- Quero ficar quieta aqui – repetiu.

- Que está se passando no seu coração? Tristeza, arrependimento? Talvez possamos ajudar com uma palavra amiga, confortadora – perguntei conhecendo boa parte dos dramas que aturdem os espíritos desencarnados que comparecem às reuniões de enfermagem espiritual.

- Tristeza, remorso, já sentiu remorso?

- Digamos que em grau pequeno já – respondi meio sem graça, sem esperar pela pergunta.

- Dói dói muito. Tem coisa que…não volta atrás, não é?

- Não volta – confirmei.

- A irmã já sabe que desencarnou?

A médium balançou a cabeça afirmativamente como a reforçar a resposta:

- Já faz tempo que isso me aconteceu.

Perguntei, tentando iniciar um diálogo:

- Esse sentimento é resultado da sua última passagem pela Terra? E aí no mundo espiritual você tem procurado assim…- e sem que eu terminasse a pergunta, me cortou dizendo:

- Sim, faço terapia.

- Muito bem. E tem ajudado?

- Muito pouco – respondeu com voz desanimada.

- Mas essas coisas são assim mesmo – tentei ajudar. Conforme a intensidade do sentimento e da carga emocional que você carrega, do que você está sentindo, é como tentar apagar um incêndio com gotas d'água.

- Eu falei com eles que eu ia vir aqui – provavelmente referindo-se aos espíritos desencarnados responsáveis pelos trabalhos daquela noite.

- Hum…

- Eu não sei porque estou falando, se eu disse que não falaria nada.

- Mas sempre ajuda, viu irmã? Você já participou de outras reuniões como está, comunicando-se através de uma médium?

- Não.

- Tem dificuldades? – perguntei para entender.

- Eles me explicaram como eu deveria agir. Aqui, como lhe disse, faço terapia.

- Essa experiência que você está vivendo pela primeira vez, ajuda muito porque agrega ao teu corpo energias que fortalecem. É como se você recebesse, vamos dizer assim, uma transfusão de sangue. A pessoa que está precisando de uma doação de sangue geralmente se encontra enfraquecida, mas depois fica revigorada e fortalecida. Sangue representa vida. - E é justamente esse, o objetivo desta reunião – expliquei - que a irmã possa se fortalecer e melhorar. Você tem consciência que precisa seguir adiante, correto?

- Mais do que saber, eu preciso – respondeu após breve silêncio.

- Exatamente, precisa. Muito bem colocado.

- Eu não sei como me livrar dessas….

- Reminiscências? – completei tentando ajudar.

- Isso…

- Você já conversou com o seu terapeuta sobre a possibilidade da reencarnação? Porque a reencarnação de certa forma é um,,,- quando ia concluir o pensamento, ela afirmou:

- Sim…mas não é tão simples. Porque as situações, não sei bem como posso lhe explicar. As pendências ainda são muito fortes para pensar na reencarnação. Por isso que é difícil. Eu estou aqui desse lado e já tive meu momento na Terra e não aproveitei, aliás, acabei me complicando. E é isso que me dói muito. E essa nova oportunidade pode levar muito tempo, muito tempo.

 

Neste momento pensei em perguntar ao espírito qual foi, na Terra, a razão deste sofrimento, mas preferi, seguindo uma espécie de intuição, não entrar neste detalhe que deve ter sido muito dolorido. Entretanto ficava muito claro o sofrimento do espírito por desperdiçar a oportunidade da vida física.

 

- Me diga, aqui na Terra qual era sua profissão? Você se recorda? – perguntei tentando dar outro rumo ao diálogo.

- Eu fui costureira.

- Ah sim. E por que você não tenta costurar um pouco desse outro lado? Você já tentou?

- Parece que eu estou numa bolha isolada de…- o espírito não conseguiu concluir este pensamento e seguiu dizendo:

- Não consigo me desvencilhar disso.

- Ainda não reúne forças suficiente para tanto – ajuntei concordando.

- Está muito forte dentro de mim…latente.

- Importante é que você tem consciência disso tudo – respondi com a intenção de fortalecer o espírito comunicante.

- Sim é verdade.

- E nós respeitamos muito o seu sofrimento. Ainda assim, procuramos trazer palavras confortadoras, novas ideias, para que a irmã possa melhorar

- É - respondeu em monossílabo.

- Mas é importante, e eu vou repetir que você já tem consciência. Creio também que você já saiba o caminho que necessita seguir. Talvez esteja faltando reunir um desejo mais ardente, talvez coragem, força para tentar romper essa bolha.

- Isso. Eu estou vivendo, neste momento, no hiper foco. Já me esclareceram aqui.

- Hiper foco – repeti tentando entender.

- E eu não consigo me desfocar disso, sabe?

- E de certo forma, isso ocupa a sua mente cem por cento – ajuntei aproveitando o encaminhamento do diálogo que tentava manter com esta irmã, em estado de profunda tristeza.

- Exato, ocupa totalmente a minha mente, cem por cento.

- Entendo.

- Preciso de achar um jeito.

Procurando conduzir o diálogo para tentar auxiliá-la, perguntei:

- Quando você estava encarnada você gostava de criança?

- Sim – respondeu sem entender o objetivo da pergunta.

- Por que você não procura trabalhar com crianças aí deste outro lado? Porque eu entendo que, trabalhar com crianças é uma reconstrução para aquele que trabalha, não é verdade?

- Eu sei, mas a minha tristeza é tão grande que me parece que eu não sou bem-vinda nos lugares que eu vou.

- Entendo perfeitamente o que você está dizendo. Nos lugares que você frequenta, você comparece carregada com a aura negativa e as pessoas que estão ao seu redor, sentem. Esta situação se potencializa considerando a manifestação e a percepção dos sentimentos que são muito mais evidentes quando estamos desencarnados.

- É isso mesmo que ocorre, e as crianças são muito sensíveis.

- Entendi.

- E eu não gostaria de prejudicá-las com esta minha tristeza.

- Você me desculpe tocar neste assunto, porque eu mesmo, ainda encarnado, trabalhei sempre com criança e sinto que lidar com elas renova-nos, trazendo sempre muitas alegrias, entendeu?

- Sim, mas não se preocupe. É porque eu chego num lugar e parece que as pessoas se afastam de mim, sabe. É assim.

- Tem orado? Consegue orar?

- Sim, tenho orado.

- É minha irmã, me parece que seu caso, claro, não pretendendo fazer um diagnóstico, até porque os irmãos que estão lidando com você, os terapeutas, possuem maiores condições e são melhores preparados do que eu, além de possuírem muito mais informações para conduzir seu tratamento. Mas a questão me parece que somente o tempo poderá remediar. Somente o tempo poderá lhe ajudar.

- É o tempo, os irmãos aqui me dizem que vai passar. Se esforce, eles sempre reforçam para mim.

- Procure – afirmei ajuntando algumas sugestões - quando estiver um dia bonito de sol, sair um pouco e tentar encontrar nas pequenas coisas uma nova motivação, novas alegrias.

- Sim

- A beleza e aas cores de uma flor, observar uma mãe com uma criança ou uma gestante, que representam renovação de vida, coisas assim, entendeu? Por outro lado, é importante você ter em mente que o trabalho será fundamental para sua recuperação. Há um autor espiritual, que foi médico psiquiatra quando encarnado e continua a sê-lo como espírito desencarnado, chamado Dr. Inácio Ferreira, que tem uma colocação interessante a este respeito. Em seus livros, que nos envia por via mediúnica, ele se refere a vassoura. Afirma que a vassoura é um instrumento valoroso na recuperação e no auxílio e reabilitação de espíritos com certos desequilíbrios mentais e desânimos como no seu caso. Importante se ocupar, ocupar a mente. Varrer é uma coisa muito simples, mas que é muito importante, pois quando termina seu trabalho, você obtém um local limpo e isso tem o seu valor.

Após me ouvir sobre a “vassoura terapia” com a voz mais animada ajuntou:

- Sabe que nas clínicas onde recebo atendimento, há um pátio muito grande e tem muitas árvores. Faz muita sujeira

Nessa hora, ri-me percebendo que ela estava entendendo o recado.

- Eu vejo sempre algumas senhoras varrendo este pátio.

- E essas senhoras são internas da Clínica, como você?

- São sim, e agora pretendo me candidatar.

- Ótimo, de repente você conhece alguma delas e quem sabe elas possuam histórias, algum caso para relatar e desta forma, uma pode ajudar a outra. Porque o que você menos deve fazer é se isolar e nessa hora de tristeza profunda, é o que mais desejamos fazer, procurar se isolar.

- Hoje eu sei que eu vim a esta reunião porque faz parte do meu tratamento. Entretanto, as pessoas querem saber por que estou aqui, por que estou deste jeito. E nessa hora o isolamento me poupa de ficar dizendo coisas sobre mim, que não quero dizer. Nem sempre eu gosto de fazer isso. Principalmente tendo errado como errei.

- Eu te entendo e sobre um certo aspecto, lhe dou razão. Mas por outro lado, cedo ou tarde isso será necessário, não é verdade? Perguntei para tentar ajudar ela a despertar. Após pequeno silencio, continuei:

- É natural que as pessoas que estão ao seu redor queriam saber, mas você se poupar de alguns irmãos muito curiosos, é uma boa medida.

- Mas o bom é que a vassoura não irá me perguntar nada – disse ela, entendendo o espírito da coisa e rimos juntos.

- Eu tenho certeza que o uso dela vai ser para você uma abertura para novas situações terapêuticas. Embora você esteja nessa situação de tristeza, fiquei muito feliz deste diálogo com você.

- E para você ver, eu vim até aqui para não conversar - falou brincando.

 

- Gostei e se houver oportunidade futura eu voltarei. E quem sabe eu posso trazer alguma notícia para você sobre a vassoura.

- Será muito bom. Que você possa continuar sendo amparada pelas forças invisíveis do universo. O amor de Deus, que a ninguém abandona, possa nutrir o seu coração e a sua alma. Você é uma filha de Deus muito querida para o coração Dele e ele deseja trazê-la para o regaço Dele para que você resplandeça a luz que habita no seu íntimo, fazer brilhar a vossa luz. Se erramos, e é natural porque todos nós erramos um dia e ainda vamos errar muito, é natural que nós nos recolhamos desta forma. Deus, o pai amoroso, entende isso.

- Eu me esforçarei tenho certeza disso, eu me esforçarei para esta melhora – com voz mais animada falou.

 

- Que Jesus lhe ampare e procure forças também na oração porque você deve saber que depois do Amor Divino a maior força do universo está no poder da oração. Primeiro é o amor Divino, em segundo a oração sincera proferida do fundo do coração.

- E eu nunca dei muita importância a isso.

- São forças que moram dentro de nós, expliquei, e quando postas em ação, movimentam outras forças que nem imaginamos. Tenha certeza que essas duas forças irão lhe ajudar

Um pequeno silêncio e o espírito perguntou:

- Como que você ora?

- Eu? – respondi, sem esperar esta pergunta.

- Pra mim orar significa fazer um Pai nosso ou uma Ave Maria.

- Você pode conversar com Deus. Afinal é o que a oração, em sua essência, significa. A criatura voltando-se para o Criador em pensamento elevado.

- Mas eu acho que Deus está tão distante – disse ela decepcionada.

- Sabe quem está ao seu lado? – perguntei, já com a ideia organizada, a ser apresentada para o espírito.

- Não

- Vou tentar explicar melhor: saiba que eu não consigo enxergar você, como espírito desencarnado. Eu não consigo lhe enxergar porque você está em outra dimensão, correto? E eu não possuo a faculdade de vidência para ver espíritos desencarnados.

- Vamos lá, tentarei esclarecer: na dimensão em que você está, há outros espíritos desencarnados que estão ao seu lado e que, como eu, você também não pode enxergá-los.

É como se fosse uma escada, uma hierarquia, entendeu? Eu não lhe enxergo…

- Porque você está encarnado na terra - adiantou-se o espírito.

- E você - afirmei -  já não possui o corpo físico. E há outros irmãos que não possuem o corpo que você tem, eles já subiram na hierarquia, evoluíram.

- São bons? - perguntou-me.

- São muito bons, respondi. São eles que levam as nossas mensagens, os nossos pedidos até Deus.

- São anjos?

- Quase. Cada um de nós tem um amigo espiritual para nos auxiliar.  Só que eles aguardam, eles não costumam agir assim diretamente, aguardam as nossas iniciativas. Aguardam que nós estendamos a mão às dele que sempre se encontram, em nossa direção, estendidas.

 

 

- Veja uma coisa, porque para mim Deus está muito distante. Eu feri muito as Leis de Deus. Eu sei que não fui uma boa filha pra Deus. Então fica muito difícil ter uma conversa com Deus, você me entende? Mas se eu tenho um espírito amigo, um colaborador, eu posso falar e ele poderá me auxiliar.

- Sim, sim, o que eles mais gostam é de servir.

- E ele ouve tudo que eu disser?

Claro, e digo mais. A partir do instante que você conseguir melhorar um pouco seus pensamentos, seu panorama mental você perceberá uma surpresa.

- Qual? - ela perguntou curiosa pela resposta.

- Você irá falar com ele e também irá escutar. Por hora é necessário que consiga melhorar seus pensamentos. É como se nossa mente estivesse mergulhada num poço de lama, e nós tivéssemos que mudar esta situação para uma jarra repleta de água cristalina.

E a partir daí você não somente irá falar, mas também conseguirá escutar. Será você falando, Deus escutando e enviando a sua resposta através desse irmão.

- Deus seja louvado, coisa boa. Eu nem tenho palavras para agradecer o quanto esse diálogo me ajudou.

- Nós é que ficamos felizes porque percebemos que você irá sair desta reunião, melhor do que quando chegou.

- Que bom, ter alguém para conversar e que não irá especular sobre minha vida.

- Interessante isso que você disse e sabe porque ele não irá especular? Porque ele conhece tudo pelo que você passou e sofreu. Ele sendo bom, é também muito humilde e respeita profundamente a sua dor e irá ajuda-la sugerindo uma nova trajetória.

- Muito obrigada.

- Respire fundo e sinta-se uma filha de Deus e que este irmão ao seu lado representará a extensão de Deus próximo a você.

- Muito obrigado por estes momentos.

- Nós e que agradecemos. Que Deus lhe ampare e abençoe e que esses fluídos que você recebeu estando em contato com a médium, sejam reparadores e possam lhe beneficiar principalmente nas suas questões mentais dando novo ânimo para seguir adiante. Siga em paz e boa noite.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

 

Espírito com corpo degenerado – Ovoidização – III   Final

“A perturbação vem de inesperado, instala-se à pressa; entretanto, retira-se muito devagar. Aguardemos a obra paciente dos dias”         Gúbio - Libertação 


Neste último artigo sobre o tema da ovoidização, nossas reflexões serão baseadas em caso descrito na obra Libertação, em sua primeira edição datada de 1949, da série conhecida como “Vida no mundo Espiritual” trazida à lume pelo espírito André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier.

Na obra referida o autor espiritual acompanhado por Elói e o instrutor Gúbio, descreve situações vivenciadas em dimensão denominada Abismo, em um local considerado como uma cidade estranha, a cidade dos gregorianos, com o propósito de resgatar um irmão chamado Gregório, comprometido nos últimos sete séculos com as hostes do mal.

Assim descreve, André Luiz, sobre sua primeira visualização de um ovóide: “Ante o intervalo espontâneo, reparei, não longe de nós, como que ligadas às personalidades sob nosso exame, certas formas indecisas, obscuras. Semelhavam-se a pequenas esferas ovóides, cada uma das quais pouco maior que um crânio humano (grifo meu). Variavam profusamente nas particularidades. Algumas denunciavam movimento próprio, ao jeito de grandes amebas, respirando naquele clima espiritual; outras, contudo, pareciam em repouso, aparentemente inertes, ligadas ao halo vital das personalidades em movimento. Fixei, demoradamente, o quadro, com a perquirição do laboratorista diante de formas desconhecidas. Grande número de entidades, em desfile nas vizinhanças da grade, transportavam essas esferas vivas, como que imantadas às irradiações que lhes eram próprias. Nunca havia observado, antes, tal fenômeno”.

O instrutor Gúbio, nesta oportunidade, refere-se por primeira vez sobre assunto muito pouco conhecido e ainda menos estudado pelos espíritas, que é a segunda morte

“André – respondeu ele, circunspecto, evidenciando a gravidade do assunto –, compreendo-te o espanto. Vê-se, de pronto, que és novo em serviços de auxílio. Já ouviste falar, de certo, numa “segunda morte”.

André Luiz responde que já conhecia o referido fenômeno originado por outras duas razões. Porém ignorava esta nova possibilidade, a que o instrutor Gúbio acrescenta para o saber de André Luiz e o nosso: “...tanto quanto ocorre aos companheiros respeitáveis desses dois tipos, os ignorantes e os maus, os transviados e os criminosos também perdem, um dia, a forma perispiritual. Pela densidade da mente, saturada de impulsos inferiores, não conseguem elevar-se e gravitam em derredor das paixões absorventes que por muitos anos elegeram em centro de interesses fundamentais. Grande número, nessas circunstâncias, mormente os participantes de condenáveis delitos, imantam-se aos que se lhes associaram nos crimes”.   

Maior clareza no esclarecimento impossível. A ovoidização é a perda da forma perispiritual. Segundo vimos nos artigos anteriores, é o retorno ao corpo mental, segundo explica André Luiz e nós concordamos.

O corpo perispiritual é transformável, perecível, se desgasta e.....também sofre o fenômeno da morte. Daí ser denominado nas obras de André Luiz, como a segunda morte. A esse respeito, recomendo fortemente a leitura do livro A 2a morte de Odilon, excelente obra ditada pelo Dr. Inácio Ferreira, psicografada pelo médium Carlos Baccelli, em que é descrita a passagem do Dr. Odilon para plano superior, perdendo em razão disso, a forma perispiritual. Estudemos estas obras, esclarecendo-nos sobre importante assunto que é afeto a todos os seres encarnados ou não, espíritas ou não.

Continuando o relato do livro Libertação, André faz oportuno questionamento sobre as formas ovóides: “E se consultarmos esses esferóides vivos? ouvir-nos-ão? Possuem capacidade de sintonia”?

Ao que Gúbio esclarece, solicito: “Perfeitamente, compreendendo-se, porém, que a maioria das criaturas, em semelhante posição nos sítios inferiores quanto este, dormitam em estranhos pesadelos. Registram-nos os apelos, mas respondem-nos, de modo vago, dentro da nova forma em que se segregam, incapazes que são, provisoriamente, de se exteriorizarem de maneira completa, sem os veículos mais densos que perderam (grifo meu), com agravo de responsabilidade, na inércia ou na prática do mal. Em verdade, agora se categorizam em conta de fetos ou amebas mentais, mobilizáveis, contudo, por entidades perversas ou rebeladas”.

É bom lembrar, que o ovóide é também uma forma física que reveste o espírito, embora em tipo de matéria bem diferente daquela que conhecemos, daí a coerência e oportunidade da questão.

Da resposta de Gúbio, quantas elucidações em tão poucos linhas. Dentre as várias reflexões que nos é lícito fazer, a que destacamos no grifo, nos remete a pensar que para o atual estágio evolutivo da maioria dos espíritos encarnados e desencarnados da Terra ou fora dela, é imprescindível corpos físicos e seus respectivos órgãos de manifestação ainda grosseiros, pois nossa mente não saberia organizar pensamentos de forma equilibrada e disciplinada fora desta condição.

Em sua trajetória evolutiva, penso que o espírito necessita aprender, reaprender e fixar os valores referentes às conquistas também no campo da comunicação. Isso porque, se tal qual os espíritos evoluídos, iremos nos relacionar com outros espíritos de maneira natural pensamento a pensamento, sem necessidade alguma da intermediação de órgãos físicos, haveremos de, por longos séculos e várias encarnações, envidar esforços com grandes sacrifícios para a conquista desta faculdade.

No capítulo sete denominado Quadro doloroso, no livro Libertação, destacamos um caso apresentado por André Luiz, para ilustrar nossas reflexões e estudos sobre os ovóides. Por razões óbvias, transcrevo o caso de forma bem resumida, recomendando aos leitores à consulta na obra original.

André Luiz informa: “Descemos alguns metros e encontramos esquálida mulher estendida no solo. Percebi que a infeliz se cercava de três formas ovóides, diferençadas entre si nas disposições e nas cores, que me seriam, porém, imperceptíveis aos olhos, caso não desenvolvesse, ali, todo o meu potencial de atenção.

– Reparo, sim – expliquei, curioso –, a existência de três figuras vivas, que se lhe justapõem ao perispírito, apesar de se expressarem por intermédio de matéria que me parece leve gelatina, fluida e amorfa”.

Note que André Luiz precisou refinar sua capacidade de visualização para melhor observar os três seres ovoides, em razão da diferença de densidade material destas criaturas, a perturbar infeliz mulher no mundo espiritual.  

Gúbio aduziu: “São entidades infortunadas, entregues aos propósitos de vingança e que perderam grandes patrimônios de tempo, em virtude da revolta que lhes atormenta o ser. Gastaram o perispírito, sob inenarráveis tormentas de desesperação, e imantam-se, naturalmente, à mulher que odeiam...”

O caso, envolvendo uma mulher tirânica, senhora de escravos que desposou um homem, o qual, anteriormente, se relacionara com escrava da fazenda. Deste relacionamento indébito, dois filhos foram gerados. Tomada por sentimentos de triste vingança a dona da fazenda vendeu a escrava, que encontrou a morte pela febre maligna.

Os dois filhos, agora órfãos, padeceram vexames e flagelações e caíram minados pela tuberculose que ninguém socorreu. Desencarnados, mãe e filhos, formaram um trio que manteve profunda revolta com propósito de vingança àquela que lhes causara humilhação e morte. Sem qualquer sentimento de piedade impuseram-lhe destrutivo remorso ao espírito. Dominando-lhe a vida psíquica, transformaram-se para ela em perigosos carrascos invisíveis. Nesta altura da vida física, adoeceu gravemente e embora socorrida pelos recursos disponíveis, deixou o corpo físico a pouco e pouco.

Ao desencarnar, viu-se perseguida pelas três vítimas de outro tempo, os quais, após perderem a organização perispirítica (ovoidização), aderiram a ela, com os princípios de matéria mental que externavam.

Quantas criaturas encarnadas na Terra, sob terrível desequilíbrio mental, encontram-se martirizadas por entidades espirituais desencarnadas que lhes foram vítimas, inocentes ou não, a lhes imporem moléstias na alma que superficializam-se no corpo físico sem diagnóstico conhecido pela medicina humana, podendo conduzir até a perda da vida física. Esta simbiose patológica, claramente pode persistir após a morte na esfera extra-física, querendo nos alertar que o fenômeno da morte, como diria Chico Xavier, trata-se de mudança completa de casa, sem mudança essencial da pessoa.  

Assim estamos todos nós caros leitores, quando não atentamos para os ditames da Lei Divina: de um lado o ódio profundo provocando em três almas a perda da forma física perispiritual, irmãos enfermos que não atenderam ao ensino de Jesus de perdoar a ofensa setenta vezes sete vezes; por outro lado o desequilíbrio originado pelo mal deliberadamente colocado em prática e depois, o remorso consequente, a provar a fatalidade da frase do Cristo que manda ser dado a cada um segundo suas próprias obras.

Tratando da solução para este caso, André Luiz indaga e o amoroso instrutor Gúbio elucida que, somente o tempo aliado às justas regras da reencarnação localizará estas almas sob o mesmo teto, e que, sob a forja do sacrifício serão reconduzidas à estrada certa.

Referência

(1) Luiz, André. Libertação. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 17ª ed. Brasília. Editora FEB, 1995. 263p.


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