A maior dor que acomete o espírito
Qual dor é capaz de alcançar nosso íntimo sem oportunidade de
cura ou de alívio imediato, nas lutas em que nos vemos envolvidos?
Quando somos atingidos pela aflição da enfermidade
destruidora, buscamos urgente, medicação especializada para erradicá-la. Se não
a encontramos, nossa aflição pode aumentar.
Se, por atitudes impensadas, prejudicamos e ferimos
afeiçoados de nossa relação e caímos em profundo arrependimento, é natural
procuremos diluir a culpa que nos suplicia a mente com o perdão. Porém, se não
encontramos perspectiva de rápida reconciliação, a culpa como que mergulha o
coração em imensa fornalha que queima a alma com tanto mais vivacidade quanto
mais consciência tivermos do delito praticado.
Nos sujeitamos então ao maior drama, a grande aflição que
angustia a alma acima de todas as demais adversidades, desafiando o tempo e os
mecanismos de corrigenda estabelecidos pela Lei que nos rege. O espírito
encarnado ou desencarnado enfrentará desta forma, pela falta cometida, o
sofrimento atroz que provém do remorso.
Considerado por Emmanuel (1) como “fogo íntimo a diluir a
existência em suplício invisível” o remorso somente se manifesta nas almas
insensibilizadas quando o peso da consciência lhe desperta no ser, ao passo que
para as almas retas, basta ligeira falta cometida para que de imediato já
sintam as labaredas a exigir reajuste.
André Luiz estuda em Evolução em Dois Mundos (2), pela
psicografia de Chico Xavier, as predisposições mórbidas que podem ocorrer no
perispírito, e atribui ao remorso, importante fator etiológico. O autor
espiritual do famoso livro Nosso Lar, aborda também a “zona do remorso”. Vamos
explicar para melhor entendimento.
A recordação de uma determinada falta grave que cometemos,
mormente daquelas que permanecem recalcadas no espírito, sem que o desabafo e a
corrigenda funcionem por válvulas de alívio às chagas ocultas do
arrependimento, cria na mente um estado anômalo denominada de “zona de remorso”.
Em razão disso, o pensamento enfermo, qual onda viva e
contínua, passa a enovelar-se em circuito fechado sobre si mesma, com reflexo
permanente na parte do perispírito ligada à lembrança das pessoas e circunstâncias
associadas ao erro de nossa autoria. Pronto, daí surgem as predisposições
mórbidas no perispírito, as quais como energias profundas e desarmônicas,
plasmadas por nós mesmos, podem ser transferidas de uma existência a outra
perfeitamente e provocarem uma ou outra enfermidade.
É da própria Lei que, aos ferirmos alguém, caiamos, por nossa
vez, inevitavelmente entregues aos resultados de nossos golpes, a fim de que
sejamos também feridos. Se não procurarmos amar, contando com a misericórdia
divina, para amenizar o peso do sofrimento, a justiça divina, que determina
seja dado a cada um segundo as próprias obras, surge implacável.
Por isso é melhor não deixar para depois e procurar atender à
recomendação do Mestre, reconciliando rápido com nossos adversários. Ainda assim,
mesmo quando sejamos perdoados pelas vítimas de nosso desatino, detemos conosco
os resíduos mentais da culpa,
qual depósito de lodo no fundo de uma piscina, e que, um dia, virão à tona para
a necessária expunção, à medida que se nos acentue o devotamento à higiene
moral.
Quer dizer que, mediante qualquer falta cometida, mais que o
dano causado à vítima, representa um estado de desarmonia, o comprometimento
daquele que errou com a consciência cósmica, com o estado das forças do bem que
regem em equilíbrio o Universo e que sempre necessita ser reparada.
Porém, e sempre há um porém no meio do caminho, a reparação
de nossas faltas nem sempre irão se dar diante do nosso precoce ou tardio
desejo de fazê-la. Ou seja, o sofrimento que o espírito encarnado ou desencarnado
experimenta fruto do remorso pela falta praticada, será sempre muito grande,
porque não estará totalmente em nossas mãos a possibilidade de anulá-lo tão
longo quanto se pretende (3).
O remorso como uma força que nos algema à retaguarda, aprisionando-nos
o campo mental nas faixas inferiores da vida terrestre. É sempre o ponto de
sintonia entre o devedor e o credor, e cedo ou tarde, abre grande brecha na
fortaleza em que nos escondemos para fugir à cobrança da consciência.
Por outro lado, o remorso, como imperiosa
força a serviço da Divina Lei, é uma benção, sem dúvida, que pode nos
auxiliar a restaurar as boas intenções. Não fosse pelo remorso que nos prende à
retaguarda afetiva, junto aqueles que integram o nosso grupo evolutivo, a
indiferença seria a característica maior dos nossos sentimentos. (4).
Referência
(1) Emmanuel. Justiça Divina. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª
ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1962. 178p.
(2) Luiz, André. Evolução em dois mundos. Psicografado
por Francisco Cândido Xavier. 8ª ed. Brasília. Editora FEB, 1985. 219p.
(3) José, Irmão. Irmão José. Psicografado por
Carlos A. Baccelli. 1ª ed. Votuporanga. Editora DIDIER, 2022. 252p.
(4) Ferreira, Inácio. Na
próxima dimensão. Psicografado por Carlos A. Baccelli. 1ª ed. Uberaba.
Editora LEEPP, 2002. 258p.
Grata por tão bela explicação.
ResponderExcluirMuito grato Silvia. Abraço forte e continue estudando sempre.
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