Adeptos da Doutrina Espírita nesta
encarnação, não queiramos ter a pretensão de nos considerarmos aptos a alçarmos
voos mais altos que nossa nanica estatura espiritual seja capaz de suportar. De
saída posso afirmar, sem medo de errar, que ainda nos encontramos muito, mas
muito mais perto do ponto de partida que da vitória definitiva. O caminho que nos conduzirá à pureza de
Espírito é quase infinito, e embora o Espiritismo nos console ao afirmar que o
amparo Divino seja eterno para todas as criaturas, a Doutrina também nos alerta
que todos receberemos aqui ou além, de acordo com nossas próprias obras.
Então o que nos resta, senão limpar
entulho? Ou melhor dizendo, como afirma Dr. Inácio Ferreira em suas obras, a
“sucata” milenar que carregamos em nós próprios.
Vamos reciclar este material e
transformá-lo em adubo que possa, ao longo das encarnações, fertilizar a terra
que haveremos de arar com a charrua do esforço contínuo e irrigado com as
lágrimas que haveremos de derramar no difícil processo de libertação da alma.
Para este tentame, Irmão José, venerável Benfeitor da Vida Maior, nos indica o
exercício das virtudes esquecidas. Em boa hora, lembro dos cuidados que pessoas
de todas as idades tem procurado academias para exercitarem suas carcaças em
busca de melhor qualidade de vida, no que se refere aos aspectos físicos.
Porém, na malhação constante para exibir “musculatura” espiritual, o devotado
servidor do Cristo nos lembra de pequenos labores diários a que devemos nos
consagrar, visando o equilíbrio espiritual nas tarefas a que somos chamados a
cumprir. “O simples hábito de orar, a
reflexão, a paciência, a solidariedade, o perdão, a renúncia, o silêncio, as
atividades doutrinárias que muitos consideram insignificantes ou menores nas
casas espíritas, enfim, o testemunho pessoal da fé no cotidiano, com base em
nossa melhoria íntima”. (1)
Unidas, a disciplina, como matéria
indispensável ao nosso currículo espiritual, e a pregação do exemplo, serão
nossas medicações preventivas contra os males da ilusão que já amontoamos nas
vidas passadas e repletam nosso subconsciente como brasa adormecida, à espera
de um sopro tentador para que o fogo das imperfeições se reacenda em nosso
íntimo.
Nesta circunstância, entendemos
claramente o porquê de companheiros que, ingressam nas fileiras espíritas e
tomam contato com as benesses do conhecimento iluminativo, desistirem de
empenhar-se em níveis mais profundos. Há duas razões principais para esta
frequente ocorrência. Primeiro, o receio de realizar em si mesmos o processo de
renovação; e o segundo, consequência do primeiro, é terem que mudar hábitos
milenarmente estabelecidos, abrindo mão de pequenos prazeres que felicitam a
alma imperfeita. Realmente decidir e ter atitude pela evolução consciente do
Espírito é tarefa para poucos no panorama atual de nosso planeta.
Outra parcela de irmãos, que não se
afastam da Doutrina, porém se limitam a serem frequentadores de reuniões
semanais. Não permitem que o fogo abrasador das revelações, que requer nossa
renovação processual, derreta o gelo de seus corações adormecidos sob antigos
conceitos religiosos que não conseguem ou não querem sobrepor. Como adentrar os domínios da luz
permanecendo nas sombras? De que forma desejar ser convidado ao banquete
divino, sem envergar a veste nupcial apropriada?
O objetivo do Espiritismo em essência, é o
conhecimento para a transformação. Aquele que resolve cultivá-lo no coração,
antes que se torne um facho que ilumine caminhos exclusivos para saciar desejos
infindáveis do saber que somente ilumina-nos por fora, deve se constituir em
luz que nos ilumine por dentro.
Referência
(1) Ferreira, Inácio. Do outro lado do espelho. Psicografado por Carlos A. Baccelli. 1ª ed. Votuporanga. Editora DIDIER, 2001. 314p.