segunda-feira, 2 de junho de 2025

 

Ser médium é fácil, difícil é ser bom

 

A frase que intitula o artigo desta semana atribuída ao Dr. Odilon Fernandes, valoroso estudioso e profundo conhecedor à cerca da mediunidade, nos deve conduzir a mais profundas reflexões em relação ao nosso real papel na Doutrina Espírita.

Acreditar que basta estarmos frequentando a doutrina, escrever e publicar livros e artigos, participar ativamente de uma casa espírita ou ajudar no desenvolvimento da doutrina será suficiente para o nosso engrandecimento espiritual.

Quem dera fosse tão fácil assim.

As revelações disponíveis na literatura espírita para nós, já bastante crescidinhos, são mais que suficientes para guiar-nos e não nos deixar iludir ou enganar-nos uma vez mais nesta presente encarnação.

É bom ir avisando que, a adesão a esta ou aquela crença religiosa não garante nenhum acesso aos mundos superiores. Deixemos, de uma vez por todas, de acreditar que rótulos religiosos podem salvar este ou aquele crente. Até mesmo para o espírita, pois a doutrina espírita não é proprietária da Verdade. A verdade é a verdade, que o diga Pilatos, e cedo ou tarde, terminará por se impor aos mesquinhos interesses humanos. 

Em Jesus, cuja perfeição para nós, se perde na noite dos tempos, a verdade inestancável, o nosso modelo de sabedoria e de amor. “Eu e meu pai somos um” dizia o Mestre se referindo a sua constante ligação com o alto, a oferecer fiel modelo de como deve ser para o ser humano na Terra, o cultivo da mediunidade com Jesus.

No esforço constante e diário de permanecer em sintonia com as esferas mais altas, deve o cristão procurar sublimar a sua mediunidade, ainda mesmo que hoje ela se manifeste de forma incipiente.

Saibamos reconhecer e aceitar humildemente, o nosso posto de médiuns aprendizes e iniciantes, detentores de manifestações ainda muito primárias. Como expressa o Dr. Odilon Fernandes: "em matéria de mediunidade, agora é que estamos saindo da caverna".

Médiuns com reais condições e com missões na Terra, são raros. A quase totalidade de médiuns que procuram traduzir o pensamento dos desencarnados para a Terra está lidando com espíritos comuns. Não obstante, não esqueçamos que foram os espíritos batedores, localizados como últimos na escala espírita, que sob a tutela dos Espíritos superiores, deflagraram os fenômenos físicos, que após serem estudados por Allan Kardec, abriram caminho para a codificação do espiritismo.

Assim também, diversos médiuns, portadores de excelentes faculdades mediúnicas, direta ou indiretamente, foram convocados ao labor da mediunidade pelo assédio de espíritos inferiores. E todos, indistintamente, assumindo a charrua do esforço, mostraram seu valor, não pelo número de faculdades mediúnicas que eram portadores, mas sim pelo bem ao próximo que souberam produzir utilizando está bendita ferramenta.

Ser médium não deve ser encarado como privilégio, e sim como concessão da misericórdia divina por serviço e oportunidade de engrandecimento.  

André Luiz, no livro Ideal espírita, apresenta a única medida capaz de nos elevar:

 

“A carteira de identidade presta informações de sua pessoa humana. O calendário fala de sua idade física. O relógio marca o seu tempo. O metro especifica as dimensões do seu corpo. A altitude revela a sua localização transitória sobre o nível do oceano. A tinta grava as suas impressões digitais. O trabalho demonstra a sua vocação. A radiografia faculta o exame dos seus órgãos. O eletrocardiógrafo determina as oscilações do seu músculo cardíaco.

Todos os seus estados e condições, realizações e necessidades podem ser definidos por máquinas, engenhos, instrumentos, aparelhos, laboratórios e fichários da Terra, entretanto, não se esqueça você de que o serviço ao próximo é a única medida que fornece exata notícia do seu merecimento espiritual.”

         

          A nossa maior necessidade é sermos bons! O resto virá por acréscimo...

 

(*) Todos os grifos são nossos

 

Referência

(2) Diversos Espíritos. Ideal espírita. Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 11ª ed. Editora CEC, 1991. 236p.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

 

Amnésia espiritual

 Em nossa página desta semana, trarei um intrigante assunto, que, juntamente a muitos companheiros espíritas e não espíritas, deva interessar. 

        Expressiva maioria das pessoas que desencarnam na Terra, Chico Xavier dizia que tres em cada quatro, trazem consigo, os traumas e as fobias, as frustrações e os complexos de quando eram encarnados. Iludem-se ao pensar que a desencarnação solucionará todos os complicados problemas do espírito. 

Durante a vida física jamais pensaram em dedicar-se de forma concentrada e profunda nos assuntos pertinentes à vida espiritual, deixando para segundo ou terceiro plano, quando muito, o cultivo, em si próprios, das questões alusivas à dinâmica da vida do espírito. 

É conhecido por todos os que estudam a reencarnação, que o espírito quando vai renascer ganhando um novo corpo, submete-se ao esquecimento das suas vidas pregressas, assim como do período de permanência no mundo espiritual, chamado de erraticidade. 

A ocorrência é significativa e bastante necessária, segundo aprendemos em O Livro dos Espíritos, para um desenvolver mais harmonioso do espírito na encarnação, evitando que experiências comprometedoras e infelizes e relacionamentos perturbadores com outros espíritos vividos nas vidas anteriores, possam pôr a perder, na atual existência, a oportunidade reparadora. 

Um dos temas muito estudados pelo Dr. Inácio Ferreira é relacionada ao esquecimento que costuma cometer o espírito quando do seu desenlace do corpo de carne. Como médico psiquiatra desencarnado, diretor do hospital dos Médiuns no mundo espiritual, ele tem observado que milhares de espíritos ao deixar o envoltório físico não se recordam da existência física que terminaram de vivenciar o que dificulta sobremaneira a conexão mental destes com a própria realidade que, agora desencarnados, vivenciam. Ou seja, estão desencarnados, porém ignoram esta situação imaginando que continuam vivendo sua vida normal na Terra. 

Vamos encontrar na questão número 305 do Livro dos Espíritos a seguinte informação a respeito:

- A lembrança da existência corporal se apresenta ao espírito de maneira completa e inesperada após a morte?

R. Não; ela vem pouco a pouco como algo que sai gradualmente do nevoeiro à medida que nela fixa a sua atenção. 

      São verdadeiros espíritos desmemoriados, que por incrível que possa parecer, não se recordam que viveram na Terra em sua última passagem sobre ela. Nas reuniões mediúnicas de desobsessão e enfermagem espiritual é muito comum lidarmos com espíritos com esta característica o que, naturalmente, dificulta-nos muito falar para o irmão desencarnado necessitado, que passou pelo fenômeno da morte. 

    Espíritos que se retiram do corpo com total estado de inconsciência, permanecem desta forma no mundo espiritual, podendo, inclusive, reencarnarem sem saberem que haviam desencarnado. 

A existência no plano físico é seu único referencial por não cogitarem, de forma séria e aprofundada, do que realmente os espera para lá do túmulo. Não ponderam sobre a transitoriedade da vida terrena, sem preocupação de esforço contínuo para combaterem o excessivo apego aos bens materiais.

Acreditamos que uma das principais causas desta alteração é a falta de espiritualidade, que deve aqui ser entendida não como falta de religião, mas sim de religiosidade, indiferente da crença que abrace. Não basta frequentar uma religião, posto que muitos religiosos, inclusive espíritas, vivenciam-na superficialmente e não se habituaram a refletir na condição de espíritos imortais que são e, principalmente, refletir sobre as naturais consequências que este conhecimento advém sobre nossas vidas.

São criaturas que vivem demasiadamente centradas no corpo, dedicando muito pouco tempo sobre as questões transcendentes da vida de todos nós. 

Concluímos que, a humanidade, como um todo, tem morrido muito mal, embora as luzes das doutrinas espiritualistas, especialmente o Espiritismo, tem propiciado para que façamos esta passagem de uma maneira mais lúcida.

        Caro leitor, entenda que não é para qualquer um. A benção da capacidade da recordação após a morte física é característica de espíritos que já alcançaram alguma lucidez. Fácil é morrer, difícil é desencarnar e mais difícil ainda, desencarnar o pensamento.

Pensemos nisso.

 

(*) Todos os grifos são nossos

 

Referência

(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 67ª ed.  Brasília. Editora FEB, 1944. 494p.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

 


UM ANO DE EXISTÊNCIA DO BLOG

COM TODO AMOR E DEDICAÇÃO TRAZEMOS AO PÚBLICO ARTIGOS QUE PROCUREM INSPIRAR E ESTIMULAR, CADA VEZ MAIS, AOS ESTUDOS E REFLEXÕES DA NOSSA ILUMINADA DOUTRINA ESPÍRITA.

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Cicatrizes

 

Após a crucificação, Jesus em espírito, aparece aos discípulos e a fim de se identificar, mostra as mãos e os pés com os sinais do seu martírio.

Neste episódio, há uma mensagem significante do Mestre Divino para todos nós que desejamos ser os trabalhadores da construção da Nova Era.

O sacrifício mais agradável a Jesus deveria ser o de não se conceder trégua quando o assunto é o de atender às necessidades do próximo de modo a sublimar nossos espíritos.

Por outras palavras, revelava como a claridade do sol, que o acesso às dimensões superiores, absolutamente não se dará ao discípulo que se poupar do esforço tanto físico quanto espiritual.

As cicatrizes do mestre Jesus, neste aspecto, representam para nós outros, profunda lição para que não nos mantenhamos distantes dos irmãos do Calvário,  demonstrando, em essência, que não possuímos suficiente coragem para sofrer em favor do próximo. Algo como nos apresentar diante das autoridades celestiais sem nenhuma cicatriz nos pés e nas mãos. Desejamos na Terra sombra e água fresca, escolhendo trilhar por caminhos que, em absoluto, requerem renúncia e sacrifício. 

No livro Obreiros da vida eterna pelo espírito de André Luiz e psicografia de Chico Xavier, há interessante ensinamento localizado no capítulo 12 “Amigos novos”, em que Bezerra de Menezes vai recepcionar a irmã Adelaide às portas da desencarnação referindo-se que pelo cumprimento exemplar no ministério mediúnico, do serviço incessante em benefício dos enfermos e do amparo materno aos órfãos, aliados aos profundos desgostos e duras pedradas que constituem abençoado ônus das missões do bem, sua alma encontrava-se preparada para partir sem perturbações.

Ao perceber que a irmã Adelaide se encontrava hesitante em deixar o corpo, o venerável benfeitor elucida-a, nos legando importante aprendizado:  

- Já sei. Você pensa nos parentes, nos amigos, nos órfãozinhos e nos trabalhos que ficarão. Ó Adelaide! Compreendo seu devotamento materno à obra de amor que lhe consumiu a vida. Entretanto, você está cansada, muito cansada e Jesus, Médico Divino de nossa alma, autorizou o seu repouso.

Adelaide pousou no benfeitor os olhos muito lúcidos, revelando-se confortada e, após breve pausa, Bezerra prosseguiu:

– Sua grande batalha está terminando. Você é feliz, minha amiga, muito feliz, porque seu Espírito virá condecorado de cicatrizes, depois de resistir ao mal durante muitos anos, como senti nela fiel, na fortaleza da fé viva...

Em vão, procuraremos o caminho de ascensão que não passe pela maior necessidade de sacrifício e renúncia. Por milênios temos nos iludido e enganados vivendo na expectativa de sublimarmos-nos sem tanta abnegação ou por caminhos que não nos requeiram maiores transformações.

É por isso que Emanuel no livro Pensamento e vida vai dizer: 

- “É por esse motivo que vemos no Cristo — divino marco da renovação humana —todo um programa de transformações viscerais do espírito.” 

Não vale mais reencarnar por reencarnar. Tomar consciência de nossas obrigações com nós próprios e para com os semelhantes não é mais apanágio daquele que possui formação acadêmica superior ou teológica. Aliás, estes mesmos, são os que com mais dificuldade, aderem aos princípios superiores e nobres.

Na parábola do Bom Samaritano, Jesus refere-se a dois irmãos equivocados que, como intérpretes da Lei religiosa, omitiram socorro ao homem caído na estrada. Arbitraram seguir adiante, sem desconfiarem que, por essa indiferença desenvolveriam um sentimento de culpa, o qual, seria necessário precioso tempo para conseguir libertar-se. Eles, ao fazerem uso da palavra, arrancando aplausos nos templos religiosos em que oficiavam, não conseguiam, de fato, vivenciar o que pregavam no cotidiano. Ainda nessa passagem evangélica, Jesus, não deixando alternativa ao doutor da lei, recomenda que proceda igual ao samaritano que usara de misericórdia para com o necessitado.

Esta afirmação de Jesus, desde há dois mil anos, já nos deixa saber o que seja essencial para nossa felicidade. Ninguém poderá jamais alegar que desconheçam o ensinamento.

É triste e lamentável, mas o tempo que perdemos em não fazer o que nos compete é muito maior do que o tempo que se exige para sua execução.  


Os grifos são nossos.   

Referências 

(1) Luiz, André. Obreiros da vida eterna. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Brasília. Editora FEB, 1946. 304p.

(2) Emmanuel. Pensamento e Vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Brasília. Editora FEB, 1958. 139 p.








segunda-feira, 12 de maio de 2025

 

Mensagem aos médiuns

 

Mensagem recebida na reunião mediúnica do Grupo Espírita da Fraternidade no dia 07 de Maio de 2025.

Trata-se de uma importante orientação para os trabalhadores de grupos mediúnicos que, por esta razão, resolvemos dar publicidade e compartilhar com todo aquele que trilha a estrada da mediunidade com Jesus.

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus.

Benditas são essas horas santas e sagradas, onde os filhos se conectam tanto daí na Terra, quanto do mundo espiritual. 

Essa união da matéria com o espírito, representando o encontro dos dois mundos, para mutuamente, prestarem auxílio e socorro aos nossos irmãos que se encontram em grande perturbação, equivocados, sem conhecimento. 

É um trabalho bonito de se ver.

E eu vou dizer algo agora para vocês.

Se apeguem a este trabalho como uma grande oportunidade que Deus vos oferece. Se apeguem.

Façam desse dia, um dia de muita alegria. 

Sabe o dia que somos convidados para uma grande festa? Ficamos todos alvoroçados aguardando o grande dia, com o pensamento voltado para os festejos. Nos permitimos ficar dias, semanas na expectativa, porém, quando se trata da reunião mediúnica, no trabalho da caridade, encaramos como se fosse um compromisso não agradável do qual temos que dar cumprimento, às vezes até demonstrando certa contrariedade.

Não façam assim não, filhos queridos, porque vocês não sabem a grandeza dessa verdadeira festa que é o trabalho mediúnico. Nem de longe tem a ideia ou percebem o quanto, de fato, recebem nesta oportunidade, mesmo considerando as muitas adversidades que a vida nos reserva.

Exatamente no dia do compromisso mediúnico alguma coisa nos acontece. Parentes ou amigos que chegam para uma visita, sem aviso; certa irritabilidade sem causa aparente; palpitação no coração; é pressão que sobe ou desce; dores estranhas pelo corpo que aparecem assim do nada e no dia seguinte, não mais estão presentes. Um abatimento ou desânimo, enfim, desconfortos de toda ordem que nos desafiam a mostrar perseverança para a oportunidade não ser desperdiçada.

É meus filhos....

É o espírito de vocês que ainda não aceitou de todo o compromisso, ainda não está preparado para a grandiosidade que é esse trabalho. Vocês não imaginam, vocês não podem ver, pois não tem olhos de ver.

Por isso, comecem assim a mudar o pensamento, se alegrem com essa oportunidade de servir. Nessa vida, mil vezes melhor servir do que ser servido, meus filhos. Feliz aquele que pode trabalhar, que escolhe fazer a caridade e pode dispor do tempo para prestar um auxílio. 

Essa é a maior graça que os filhos têm nas mãos. Poder servir.

O trabalho mediúnico bem realizado, beneficia em primeiro lugar o próprio médium. Trabalhando em favor do próximo, age em seu auxílio para atender às suas imperfeições, construindo sua grandeza e o crescimento íntimo do espírito. 

São lições que encarnados, nossa consciência não tem a dimensão, não alcança a grandeza do espírito que transita nessa abençoada matéria. Então assim, no dia do trabalho da mediunidade se alegrem, se alegrem e se preparem, porque vocês estão sendo agraciados 

Dureza? Vocês acham que a vida de vocês é dura? Difícil? 

Dureza foi o que vocês já deixaram para trás. Dureza foi o que ficou para trás e hoje a benção desta encarnação, prontos para receber a maior lição da vida de vocês. Não a deixe passar que a vida não é dura não meus filhos. A vida é dura porque voltamos constantemente o pensamento para as coisas materiais. Não, a vida não é aqui não. Aqui é só um momento passageiro, que passa muito rápido.

Não permita que a oportunidade passe sem útil proveito; assim também, não desejo vê-los faltarem à reunião sem real necessidade, porque a espiritualidade trabalha e esta casa não fecha.

Saibam vocês que a casa não fecha não. São vinte e quatro horas de trabalho. E por isso, ela necessita da energia, da oração, do pensamento elevado e da união entre vocês.

Vocês daí, entre os considerados vivos e nós desde aqui da pátria espiritual. Unidos, trabalhando com Jesus a nos guiar, nos iluminar o caminho para recebermos essa grandeza da paz e do amor que Jesus tem por nós.

Fiquem na paz do nosso Senhor, e eu suplico que mãe Maria Santíssima cubra de bênçãos cada um de vocês com o amor mais puro que ela possui. Sejam abençoados, amparados e auxiliados nas suas dificuldades e assim, eu deixo meu boa noite. 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

 

Judas – lições de um espírito redimido

 

As conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é possível que nos transformemos em órgão de escândalo para a verdade que o Mestre representa.

Judas – Boa Nova

 

Profundas e expressivas lições encontramos ao refletirmos sobre os acontecimentos que conduziram Jesus à prisão e, posteriormente ao martírio, estudando, sob a ótica espírita, a participação ativa de Judas.

Em pelo menos três obras de Humberto de Campos, (Irmão X), e Emmanuel, ambos pela psicografia de Chico Xavier, nos deparamos com informações que somente a espiritualidade superior poderia fornecer, em busca de melhor compreensão deste drama que envolveu o irmão equivocado.

No livro Palavras do Infinito, há expressiva página, que relata o encontro, no mundo espiritual, no século vinte, entre Judas Iscariotes e Humberto de Campos. Com o espírito curioso de repórter, nosso irmão dirige algumas questões a Judas, que humildemente se propõe responder:

 

- “É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus”?

- “Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e às tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus”.

 

Refletindo nesta passagem, observa-se que desde os tempos longínquos, as origens do mal repetem-se agindo desde a intimidade da dureza do coração humano. Os religiosos da época, representados pela ortodoxia judia, desejavam de maneira exclusiva, o reino do céu a ferro e fogo; enquanto, por outro lado, Roma aspirava pelo reino da Terra. Colocando-se entre estas duas forças antagônicas, temos Jesus, com sua pureza impensável a nós, representando o caminho a que se deve seguir para o intento do discípulo que deseja “subir aos céus”.

Neste texto, Judas considerava a si próprio como:


“um dos apaixonados pelas ideias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória”.

 

Recorremos também à obra Lázaro Redivivo, pelo lápis abençoado de Chico Xavier, ditado pelo mesmo Irmão X, o qual afirma a respeito de Judas, em auxílio ao nosso entendimento:

 

“Judas, amava o Mestre, entretanto, competia-lhe cuidar dos interesses d’Ele. A vaidade absorvia-o. A paixão pelas riquezas transitórias empolgava-lhe o espírito. Despreocupado das necessidades próprias, intentava resolver os problemas do Senhor, perante as forças políticas do tempo. O Mestre ensinava a concórdia, a tolerância, a paciência e a esperança, mas, como efetuar as reformas necessárias, através de simples atitudes idealistas?”

 

O apóstolo Pedro, traça revelador perfil sobre Judas, na inolvidável obra Paulo e Estevão, ditado por Emmanuel a Chico Xavier.                                                                            Vejamos suas ponderações:

“Em contato com a realidade do mundo, cheguei à conclusão de que Judas foi mais infeliz que perverso. Ele não acreditava na validade das obras sem dinheiro, não aceitava outro poder que não fosse o dos príncipes do mundo. Estava sempre inquieto pelo triunfo imediato das ideias do Cristo. Judas, antes do apostolado, era negociante. Estava habituado a vender a mercadoria e receber o pagamento imediato. Julgo, nas meditações de agora, que ele não pôde compreender o Evangelho de outra forma, ignorando que Deus é um credor cheio de misericórdia, que espera generosamente a todos nós, que não passamos de míseros devedores. Talvez amasse profundamente o Messias, contudo, a inquietação fê-lo perder na oportunidade sagrada. Tão só pelo desejo de apressar a vitória, engendrou a tragédia da cruz, com a sua falta de vigilância”.

Profunda a expressão simbólica dessa recordação e, com a sua luz, cabe-nos reconhecer que a maioria dos homens continua a irrefletida ação de Judas, permutando o Mestre, inconscientemente, por esperanças injustas, por vantagens materiais, por privilégios passageiros. Judas, sobretudo, desejava encontrar em Jesus as disposições de um guerreiro do mundo, avassalador, empunhando armas, partindo para cima da tirania romana e dos adversários da crença. Almejava, como os homens de hoje, que as autoridades religiosas de Jerusalém pudessem garantir toda a beleza da boa nova. Que, sob a força da lei, o amor se insinuasse nos corações humanos, sem suspeitar que ele mesmo, Judas, ainda não havia adquirido tais requisitos. Enfim, não entendera a profundidade da afirmativa do Cristo: “Meu reino não pertence a este mundo”. Em nossos dias, infelizmente, da mesma maneira, muitos crentes da fé não a entenderam.

No livro Boa Nova, acima referido, pelas palavras do próprio Judas no diálogo com o autor espiritual da obra, revela-se suas sinceras intenções:

“Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica...”

Judas, o discípulo invigilante de outrora, crendo realizar plano que atendesse a seus perturbados interesses, procurou os sacerdotes no Sinédrio, comprometendo-se em planos que, dissimulados pelos sacerdotes, queriam enredar Jesus para sua prisão e morte.

Quando percebeu que os fatos marchavam para outros rumos, Judas, reconhecendo seu erro e percebendo as promessas não cumpridas daqueles em que havia confiado, roga por compaixão, recebendo a resposta que ainda ecoa no ouvido de muitos que somente encontram nos preceitos das religiões tradicionais engodo e falsas verdades que nunca se realizarão:

- “Que nos importa? Isto é contigo...” 

Na sequência, o suicídio de Judas, que foi uma infeliz tentativa de corrigir um erro com outro erro, lhe custou séculos de sofrimentos nas zonas inferiores no mundo espiritual, além de imenso remorso pelas perseguições infligidas por Roma aos cristãos. Até que, na Europa do século XV, em gloriosa encarnação, imitando o Mestre, foi traído, vendido e usurpado, terminado suas provas na fogueira inquisitorial, na personalidade de Joanna D’arc, a donzela de Domrémy, com intensa e decisiva participação na guerra dos cem anos, libertando sua pátria, a França, do jugo inglês, além de pacificá-la e uní-la, favorecendo o caminho para os preparativos, que mais tarde, culminariam na chegada do Consolador prometido por Jesus sobre a Terra.

Concluo este artigo, com as declarações finais do diálogo entre Judas e Humberto de Campos, que nos esclarece que somente à custa da conquista do amor ensinado por Jesus, libertaremos-nos dos grilhões que nos prendem ao ciclo repetitivo das encarnações:

“Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência…”

   Em tempo. Nos meus idos períodos de infância e adolescência, era comum no sábado de Aleluia, o ritual da malhação do Judas, uma tradição católica felizmente quase extinta, que representa a punição a Judas por trair o Mestre por trinta moedas. Hoje, porém, por muito menos e às vezes por milhões a mais, traímos a Jesus descaradamente, enchendo os cofres das instituições religiosas.

    Também, quando alteramos ou deturpamos os textos da Doutrina Espírita, patrocinados por autoridades que deveriam zelar pela sua integridade, Jesus está sendo traído. Cada um, porém, receberá segundo as suas obras e nenhuma influência humana será capaz de impedir a evolução do Espiritismo na Humanidade.

     Por vezes chegamos a achar que, infelizmente, este mundo é uma comédia. Uma comédia triste de se ver.

Os grifos são nossos.

Referências

(1) Humberto de Campos. Palavras do Infinito. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. São Paulo. Editora LAKE, 1936. 123p.

(2) Irmão X. Lázaro Redivivo. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1945. 263p.

(2) Emmanuel. Paulo e Estevão. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1941. 600p.

(4) Irmão X. Boa Nova. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1941. 208p.

  Ser médium é fácil, difícil é ser bom   A frase que intitula o artigo desta semana atribuída ao Dr. Odilon Fernandes, valoroso estudio...